Oscilando entre afirmar e indagar se todas as coisas chegam a um fim, a
poetisa evidencia a brevidade de tudo quanto existe, que, se não for elemento
presente em seu ambiente circundante – circunstancial, contingente –, limita-se
de todo modo pela própria estremadura entre a vida e a morte.
Quando se morre, finda a experiência para o falecido, mas haverá a
consciência neste, pouco antes de extinta a chama, de que tudo continuará para
os que aqui permanecem, dando continuidade ao fluxo da vida: a eterna iteração
das coisas e fatos encerra o que há de melhor e, paradoxalmente, todos os males
da vivência humana.
J.A.R. – H.C.
Ruth Stone
(1915-2011)
Train Ride
All things come to an
end;
small calves in
Arkansas,
the bend of the muddy
river.
Do all things come to
an end?
No, they go on
forever.
They go on forever,
the swamp,
the vine-choked
cypress, the oaks
rattling last year’s
leaves,
the thump of the
rails, the kite,
the still white
stilted heron.
All things come to an
end.
The red clay bank,
the spread hawk,
the bodies riding
this train,
the stalled struck,
pale sunlight, the talk;
the talk goes on
forever,
the wide dry field of
geese,
a man stopped near
his porch
to watch. Release,
release;
between cold death
and a fever,
send what you will, I
will listen.
All things come to an
end.
No, they go on forever.
Vagões Ferroviários
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
Viagem de Trem
Todas as coisas
chegam a um fim;
pequenos novilhos no
Arkansas,
a curva do lodoso
rio.
Todas as coisas
chegam a um fim?
Não, continuam para
sempre.
Continuam para sempre
o pântano,
o cipreste
confrangido pela videira, os carvalhos
a agitar as folhas do
ano passado,
o ruído dos trilhos,
a pipa,
a ainda branca garça
pernalta.
Todas as coisas
chegam a um fim.
O banco de argila
vermelha, o falcão estirado,
os corpos que viajam
neste trem,
um caminhão estancado,
a pálida luz do sol, a conversa;
a conversa continua
para sempre,
o amplo e seco campo
dos gansos,
um homem inerte perto
de sua varanda
a apreciar. Liberação,
liberação;
entre a morte fria e
uma febre,
envia o que quiseres,
eu te escutarei.
Todas as coisas
chegam a um fim.
Não, continuam para
sempre.
Referência:
STONE, Ruth. Train ride. In: BREHM,
John (Ed.). The poetry of impermanence,
mindfulness and joy. Somerville, MA: Wisdom Publications, 2017. p. 43.
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