Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Ruth Stone - Viagem de Trem

Oscilando entre afirmar e indagar se todas as coisas chegam a um fim, a poetisa evidencia a brevidade de tudo quanto existe, que, se não for elemento presente em seu ambiente circundante – circunstancial, contingente –, limita-se de todo modo pela própria estremadura entre a vida e a morte.

Quando se morre, finda a experiência para o falecido, mas haverá a consciência neste, pouco antes de extinta a chama, de que tudo continuará para os que aqui permanecem, dando continuidade ao fluxo da vida: a eterna iteração das coisas e fatos encerra o que há de melhor e, paradoxalmente, todos os males da vivência humana.

J.A.R. – H.C.

Ruth Stone
(1915-2011)

Train Ride

All things come to an end;
small calves in Arkansas,
the bend of the muddy river.
Do all things come to an end?
No, they go on forever.
They go on forever, the swamp,
the vine-choked cypress, the oaks
rattling last year’s leaves,
the thump of the rails, the kite,
the still white stilted heron.
All things come to an end.
The red clay bank, the spread hawk,
the bodies riding this train,
the stalled struck, pale sunlight, the talk;
the talk goes on forever,
the wide dry field of geese,
a man stopped near his porch
to watch. Release, release;
between cold death and a fever,
send what you will, I will listen.
All things come to an end.
No, they go on forever.

Vagões Ferroviários
(Vincent van Gogh: pintor holandês)

Viagem de Trem

Todas as coisas chegam a um fim;
pequenos novilhos no Arkansas,
a curva do lodoso rio.
Todas as coisas chegam a um fim?
Não, continuam para sempre.
Continuam para sempre o pântano,
o cipreste confrangido pela videira, os carvalhos
a agitar as folhas do ano passado,
o ruído dos trilhos, a pipa,
a ainda branca garça pernalta.
Todas as coisas chegam a um fim.
O banco de argila vermelha, o falcão estirado,
os corpos que viajam neste trem,
um caminhão estancado, a pálida luz do sol, a conversa;
a conversa continua para sempre,
o amplo e seco campo dos gansos,
um homem inerte perto de sua varanda
a apreciar. Liberação, liberação;
entre a morte fria e uma febre,
envia o que quiseres, eu te escutarei.
Todas as coisas chegam a um fim.
Não, continuam para sempre.

Referência:

STONE, Ruth. Train ride. In: BREHM, John (Ed.). The poetry of impermanence, mindfulness and joy. Somerville, MA: Wisdom Publications, 2017. p. 43.

Nenhum comentário:

Postar um comentário