Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 30 de novembro de 2019

William Stafford - Pergunta-me

Trata-se aqui de um momento de contemplação persuasiva, mirando as águas de um rio, cuja quietude configura um exemplo a pontificar contra a nossa vã confiança na retórica: imóveis e frios na superfície, mas, por baixo, plenos de energia e enredamentos.

Quando a vida transcorre num fluxo gelado, sugere o poeta que devemos nos perguntar sobre os erros que cometemos, se aquilo com que tantas vezes andamos à volta representa o real sentido da vida, sobre que diferença resultou o amor ou o ódio das pessoas com quem convivemos.

Assim, poderemos vislumbrar as verdades ocultas sob as inquietações e o burburinho do quotidiano, fazendo-nos concentrar nas perguntas cruciais: o que realmente conta, perdura, tem relevância para uma vida feliz, sem peso favorável aos arrependimentos, senão às realizações que, diante dos umbrais da morte, sejam capazes de pender a libra para o lado da ventura?!

J.A.R. – H.C.

William Stafford
(1914-1993)

Ask Me

Some time when the river is ice ask me
mistakes I have made.  Ask me whether
what I have done is my life.  Others
have come in their slow way into
my thought, and some have tried to help
or to hurt: ask me what difference
their strongest love or hate has made.

I will listen to what you say.
You and I can turn and look
at the silent river and wait.  We know
the current is there, hidden; and there
are comings and goings from miles away
that hold the stillness exactly before us.
What the river says, that is what I say.

Perto do Lago
(Pierre-Auguste Renoir: pintor francês)

Pergunta-me

Nalgum dia, quando o rio estiver gelado, pergunta-me
sobre os erros que cometi. Pergunta-me se aquilo
de que me ocupei é minha vida. Outros
lentamente vieram ter em meu
pensamento, e alguns tentaram me ajudar
ou magoar: pergunta-me que diferença
fizeram o seu mais forte amor ou o seu ódio.

Escutarei o que tens a me dizer.
Tu e eu podemos dar a volta, contemplar
o rio silencioso e esperar. Sabemos
que ali está a corrente, oculta; e há
ida e vindas desde milhas distantes
que sustentam a quietude exatamente diante de nós.
O que diz o rio, isso é o que digo.

Referência:

STAFFORD, William. Ask me. In: BREHM, John (Ed.). The poetry of impermanence, mindfulness and joy. Somerville, MA: Wisdom Publications, 2017. p. 156.

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