Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Foed Castro Chamma - O Poder da Palavra

As palavras têm poder? Pelo que se pode deduzir das Escrituras, certamente, pois foi com a autoridade do verbo que os dias se sucederam na criação do mundo, quando então céus e terra passaram a existir, a partir do engenho divino: a persuasiva dicção por trás do ‘big bang’ teorizado pelos cientistas.

Mas as palavras ganham – paradoxalmente – ainda maior concretude nos meandros da poesia – significante, som e significado para expressarem todo um universo simbólico que habita a mente humana, a buscar equivalência ou mais beleza do que aquilo que, à sua volta, tenciona representar.

J.A.R. – H.C.

Foed Castro Chamma
(1927-2010)

O Poder da Palavra

Articular o verbo até medir-lhe o som,
a extensão de suas cordas, suas arestas,
as potências contidas no ritmo
interior
o colorido,
seu poder de fuga
e apreensão, seu fogo
e ouro, sua hora
inflamada,
as vibrações diluídas nos dentes,
sua fluida aparência
de poliedro disfarçado,
sua aritmética de pedra
e explosão,
seu trânsito na escala rarefeita
da audiência à voz que o emite,
condensando-o em cargas – símbolos
lançados – dardo

O verbo:

Ar ao touro
não a flor para a sua fúria
barbante atando os gestos
barro entre pedreiro e muro

liberto

como um risco
no corpo, como um risco
de faca, como um risco
de bala, como um risco
de espelho, como um risco
de ouro
que se queima nas folhas
rubras do fogo
se consome nas dobras
sujas da mente, não crepita
nem freme, sim
acende o grito
da fome

Fogo e Ouro

corcel violento com jatos
de cor
sua meta, a linha
do ar
seu pasto

Em: “O Poder da Palavra” (1959)

Fogueira
(Bob Ross: pintor norte-americano)

Referência:

CHAMMA, Foed Castro. O poder da palavra. In: SEFFRIN, André (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia brasileira: anos 50. 1. ed. São Paulo, SP: Global, 2007. p. 64-65.

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