O sujeito lírico dá de cara com um sapo nas sebes do jardim e se põe a
elucubrar em relação aos efeitos dos olhos que se cruzam, os dele e os do sapo,
num instante marcado pela contingência de se descobrirem mortais – “um mais que
o outro”.
Homem e sapo buscam o mesmo suprimento de água que, como “chuva estranha
e benigna”, flui de um “tubo aceso”: talvez estivessem expostos aos efeitos do
estio, tornando a presença da água um recurso imprescindível – ela que, segundo
os especialistas, poderá ser, ainda neste século, objeto de disputas e
conflitos bélicos, a exemplo do petróleo.
J.A.R. – H.C.
Alessio Alessandrini
(n. 1974)
Il rospo
Un rospo
acquartierato
tra le foglie della
siepe in giardino:
ci incrociamo con gli
occhi
ognuno con il proprio
spavento nella misura
che ci è stata
concessa.
tratteniamo il fiato
incatenati a
sentimenti
opachi.
Per un po’ torna a
nascondersi
poi lo vedo tentar
fortuna
sul prato di trifogli
o è
per l’acqua che
irrompe
dal tubo acceso.
Entrambi paghi di una
pioggia
estranea e benigna.
Entrambi con il
gozzo,
il nodo alla gola
liberato
per troppo godimento
innaturale.
Scampati al pericolo
di scoprirsi mortale
uno più dell’altro.
In: “I congiurati del bosco” (2018)
Estudo para um sapo
(Sir Edwin Henry
Landseer: artista inglês)
O sapo
Um sapo aquartelado
entre as folhas das
sebes no jardim:
cruzamos com os olhos
cada um com o próprio
espanto na medida
que nos foi
concedida.
seguramos a
respiração
acorrentados a
sentimentos
opacos.
Por pouco volta a se
esconder
depois o vejo tentar
a sorte
no prado de trevos ou
é
pela água que irrompe
do tubo aceso.
Ambos compensados por
uma chuva
estranha e benigna.
Ambos com a goela,
o nó na garganta
liberado
por excesso de gozo
inatural.
Salvos do perigo
ao descobrirem-se
mortais
um mais que o outro.
Em: “Os conspiradores do bosque” (2018)
Referência:
ALESSANDRINI, Alessio. Il rospo / O
sapo. Tradução de Andréia Guerini e Karine Simoni. In: Revista Brasileira. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro.
Fase VIII, Out-Nov-Dez.2017, Ano VI, n. 93. Em italiano: p. 270; em português:
p. 271. Disponível neste endereço. Acesso em: 21 set.
2019.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário