Na aparência das coisas, medida pelas palavras do próprio poeta, as
tristezas a que alude neste poema só podem ser fruto de um ânimo sorumbático,
devotado ao desconsolo, pois de outra forma, a quem tenha um espírito mais
radiante, essas mesmas coisas, certamente, ensejariam motivos de contagiante alegria,
pois dizem respeito ao fluxo da vida.
Por isso são elas denominadas “atávicas”, quer dizer, inatas,
hereditárias – e pouco há capaz de dar contornos ou inflexões a essa tendência
de ver o mundo em tons cinzentos, pois que decorrente de pressões internas ou
orgânicas do poeta, consectárias, talvez, de um quadro de morbidez, agravado,
ademais – quem sabe? – por alguma coerção de ordem social.
J.A.R. – H.C.
Demostene Botez
(1893-1973)
Tristeţi Atavice
Tristeţi adânci de iarmaroace,
De hăli cu cuşti şi panoramă,
Tristeţi de şubrede barace
Cu-ntortocheate
diagrame;
Tristeţi de birturi, cafenele,
De zgomot infernal de
cleşte,
De-un vânzător de floricele
Şi-un papagal care
ghiceşte;
Tristeţi de după-amiezi cu soare
Cu moleşita lor căldură,
Cu cerşetori fără picioare
Ce cântă dureros din gură;
Tristeţi de bărci ce balansează
Caricaturi de-avânt
schilod,
Şi de maimuţi ce imitează
Şi râd urâte la norod;
Tristeţi haine şi adânci
De-acvile cu lanţuri la picioare,
Visând seninătăti de stânci
La uşa cuştilor murdare;
Tristeţi bolnave de flaşnete
Cu valsuri vechi şi
anodine,
Tristeţi şi moaşte de regrete
Ce veac v-a îngropat
în mine?
A libertação das dores
(Paul Bond: pintor
mexicano)
Tristezas Atávicas
Tristezas profundas
das feiras,
carroças com jaulas e
vistas panorâmicas,
tristezas de barracas
oscilantes
com seus arabescos
tortuosos.
Tristezas dos bares,
dos cafés,
da gritaria infernal
de um vendedor de
amendoim,
e de um periquito
adivinho.
Tristezas de
meios-dias ensolarados
com seu calor
langoroso,
com seus mendigos de
calças mal-compostas,
em patética
lamentação.
Tristeza de barcos
que se embalam
caricaturas, com a força
mutilada
de símios imitadores
que zombam
grotescamente dos espectadores.
Tristezas hostis e
profundas
de águias
acorrentadas
sonhando com a
serenidade dos cimos,
da porta de suas
sujas jaulas;
Tristezas dos
realejos,
suas velhas valsas
informes,
tristezas, restos de
saudades,
que tempo vos
sepultou em mim?
Referências:
Em Romeno
Em Português
BOTEZ, Demostene. Tristezas atávicas.
Tradução de Nelson Vainer. In: VAINER, Nelson (Editor e Tradutor). Antologia da poesia romena. Prefácio de
I. D. Balan. Apresentação de Guilherme de Almeida. Rio de Janeiro, GB:
Civilização Brasileira, 1966. p. 133-134.
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