Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Demostene Botez - Tristezas Atávicas

Na aparência das coisas, medida pelas palavras do próprio poeta, as tristezas a que alude neste poema só podem ser fruto de um ânimo sorumbático, devotado ao desconsolo, pois de outra forma, a quem tenha um espírito mais radiante, essas mesmas coisas, certamente, ensejariam motivos de contagiante alegria, pois dizem respeito ao fluxo da vida.

Por isso são elas denominadas “atávicas”, quer dizer, inatas, hereditárias – e pouco há capaz de dar contornos ou inflexões a essa tendência de ver o mundo em tons cinzentos, pois que decorrente de pressões internas ou orgânicas do poeta, consectárias, talvez, de um quadro de morbidez, agravado, ademais – quem sabe? – por alguma coerção de ordem social.

J.A.R. – H.C.

Demostene Botez
(1893-1973)

Tristeţi Atavice

Tristeţi adânci de iarmaroace,
De hăli cu cuşti şi panoramă,
Tristeţi de şubrede barace
Cu-ntortocheate diagrame;

Tristeţi de birturi, cafenele,
De zgomot infernal de cleşte,
De-un vânzător de floricele
Şi-un papagal care ghiceşte;

Tristeţi de după-amiezi cu soare
Cu moleşita lor căldură,
Cu cerşetori fără picioare
Ce cântă dureros din gură;

Tristeţi de bărci ce balansează
Caricaturi de-avânt schilod,
Şi de maimuţi ce imitează
Şi râd urâte la norod;

Tristeţi haine şi adânci
De-acvile cu lanţuri la picioare,
Visând seninătăti de stânci
La uşa cuştilor murdare;

Tristeţi bolnave de flaşnete
Cu valsuri vechi şi anodine,
Tristeţi şi moaşte de regrete
Ce veac v-a îngropat în mine?

A libertação das dores
(Paul Bond: pintor mexicano)

Tristezas Atávicas

Tristezas profundas das feiras,
carroças com jaulas e vistas panorâmicas,
tristezas de barracas oscilantes
com seus arabescos tortuosos.

Tristezas dos bares, dos cafés,
da gritaria infernal
de um vendedor de amendoim,
e de um periquito adivinho.

Tristezas de meios-dias ensolarados
com seu calor langoroso,
com seus mendigos de calças mal-compostas,
em patética lamentação.

Tristeza de barcos que se embalam
caricaturas, com a força mutilada
de símios imitadores
que zombam grotescamente dos espectadores.

Tristezas hostis e profundas
de águias acorrentadas
sonhando com a serenidade dos cimos,
da porta de suas sujas jaulas;

Tristezas dos realejos,
suas velhas valsas informes,
tristezas, restos de saudades,
que tempo vos sepultou em mim?

Referências:

Em Romeno

BOTEZ, Demostene. Tristeţi atavice. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 out. 2019.

Em Português

BOTEZ, Demostene. Tristezas atávicas. Tradução de Nelson Vainer. In: VAINER, Nelson (Editor e Tradutor). Antologia da poesia romena. Prefácio de I. D. Balan. Apresentação de Guilherme de Almeida. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira, 1966. p. 133-134.

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