Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Robert Lowell - O Jardim Público

Aparentemente, o poeta descreve minuciosamente o cenário do Jardim Público de Boston (MA), já meio ressecado àquela altura do ano, com muitas folhas mortas pelo chão, num estado adjetivado como “encalhado”, em meio ao qual a lua aparece a personificar sentimentos que mais poderiam ser atribuídos ao próprio autor.

Passear pelo lago sobre os famosos botes-cisne não deixa de ser uma maneira aprazível de se passar uma tarde naquela bela cidade: é como se estivéssemos na mesma paragem a que Lowell se reporta – o Éden –, lobrigando, nada obstante, futuros desalentos em razão da transitoriedade de qualquer estado d’alma.

J.A.R. – H.C.

Robert Lowell
(1917-1977)

The Public Garden

Burnished, burned-out, still burning as the year
you lead me to our stamping ground.
The city and its cruising cars surround
the Public Garden. All’s alive –
the children crowding home from school at five,
punting a football in the bricky air,
the sailors and their pick-ups under trees
with Latin labels. And the jaded flock
of swanboats paddles to its dock.
The park is drying.
Dead leaves thicken to a ball
inside the basin of a fountain, where
the heads of four stone lions stare
and suck on empty fawcets. Night
deepens. From the arched bridge, we see
the shedding park-bound mallards, how they keep
circling and diving in the lanternlight,
searching for something hidden in the muck.
And now the moon, earth’s friend, that cared so much
for us, and cared so little, comes again –
always a stranger! As we walk,
it lies like chalk
over the waters. Everything’s aground.
Remember summer? Bubbles filled
the fountain, and we splashed. We drowned
in Eden, while Jehovah’s grass-green lyre
was rustling all about us in the leaves
that gurgled by us, turning upside down...
The fountain’s failing waters flash around
the garden. Nothing catches fire.

O Jardim Público em Boston
(James Charles: pintor norte-americano)

O Jardim Público

Lustroso, crestado, crestando-se ainda, como o ano,
você me conduz ao lugar de nosso pisoteio.
Eis a cidade, o corso de automóveis, e, no meio,
o Jardim Público. Tudo está vivo...
a multidão de crianças que às cinco vem da escola,
cora chutes de sem-pulo no ar entijolado,
os marinheiros com mulheres de ocasião, por sob as árvores
com placas em latim. E, exausto, o bando
de botes-cisne rema para o cais.
O parque está secando.
Folhas mortas se adensam numa bola
na bacia de um chafariz, onde
as cabeças de quatro leões de pedra, com o olhar parado
sugam torneiras vazias. Escura
desce a noite. Da ponte em arco, vemos
os patos que, na muda, confinados ao jardim,
circulam e mergulham sob a lâmpada, à procura
de alguma coisa que a sujeira esconde.
E agora a lua, a amiga da terra, que se importou demais
conosco, e tão pouco se importou, está de volta...
Sempre uma estranha! Enquanto a gente passeia,
como greda ela jaz
por cima da água. Tudo está encalhado.
Lembra-se do verão? A fonte estava cheia
de borbulhar; e chapinhávamos. Era o afogar-se
no Éden, e a lira verde-relva de Jeová
à nossa volta sussurrava na folhagem
gorgolejante junto a nós, sempre invertendo a postura..
Enfraquecida a água da fonte ainda fulgura
pelo jardim. E nada se incendeia.

Referência:

LOWELL, Robert. The public garden / O jardim público. Tradução de Paulo Vizioli. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas norte-americanos. Edição comemorativa do bicentenário da independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Editora Lidador, 1974. Em inglês e em português: p. 130.

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