Aparentemente, o poeta descreve minuciosamente o cenário do Jardim
Público de Boston (MA), já meio ressecado àquela altura do ano, com muitas
folhas mortas pelo chão, num estado adjetivado como “encalhado”, em meio ao qual
a lua aparece a personificar sentimentos que mais poderiam ser atribuídos ao
próprio autor.
Passear pelo lago sobre os famosos botes-cisne não deixa de ser uma
maneira aprazível de se passar uma tarde naquela bela cidade: é como se
estivéssemos na mesma paragem a que Lowell se reporta – o Éden –, lobrigando, nada
obstante, futuros desalentos em razão da transitoriedade de qualquer estado d’alma.
J.A.R. – H.C.
Robert Lowell
(1917-1977)
The Public Garden
Burnished,
burned-out, still burning as the year
you lead me to our stamping
ground.
The city and its
cruising cars surround
the Public Garden.
All’s alive –
the children crowding
home from school at five,
punting a football in
the bricky air,
the sailors and their
pick-ups under trees
with Latin labels.
And the jaded flock
of swanboats paddles
to its dock.
The park is drying.
Dead leaves thicken
to a ball
inside the basin of a
fountain, where
the heads of four
stone lions stare
and suck on empty
fawcets. Night
deepens. From the
arched bridge, we see
the shedding
park-bound mallards, how they keep
circling and diving
in the lanternlight,
searching for
something hidden in the muck.
And now the moon,
earth’s friend, that cared so much
for us, and cared so
little, comes again –
always a stranger! As
we walk,
it lies like chalk
over the waters.
Everything’s aground.
Remember summer?
Bubbles filled
the fountain, and we
splashed. We drowned
in Eden, while
Jehovah’s grass-green lyre
was rustling all
about us in the leaves
that gurgled by us,
turning upside down...
The fountain’s failing
waters flash around
the garden. Nothing
catches fire.
O Jardim Público em Boston
(James Charles: pintor norte-americano)
O Jardim Público
Lustroso, crestado,
crestando-se ainda, como o ano,
você me conduz ao
lugar de nosso pisoteio.
Eis a cidade, o corso
de automóveis, e, no meio,
o Jardim Público.
Tudo está vivo...
a multidão de
crianças que às cinco vem da escola,
cora chutes de
sem-pulo no ar entijolado,
os marinheiros com
mulheres de ocasião, por sob as árvores
com placas em latim.
E, exausto, o bando
de botes-cisne rema
para o cais.
O parque está
secando.
Folhas mortas se
adensam numa bola
na bacia de um
chafariz, onde
as cabeças de quatro
leões de pedra, com o olhar parado
sugam torneiras
vazias. Escura
desce a noite. Da
ponte em arco, vemos
os patos que, na
muda, confinados ao jardim,
circulam e mergulham
sob a lâmpada, à procura
de alguma coisa que a
sujeira esconde.
E agora a lua, a
amiga da terra, que se importou demais
conosco, e tão pouco
se importou, está de volta...
Sempre uma estranha!
Enquanto a gente passeia,
como greda ela jaz
por cima da água.
Tudo está encalhado.
Lembra-se do verão? A
fonte estava cheia
de borbulhar; e
chapinhávamos. Era o afogar-se
no Éden, e a lira
verde-relva de Jeová
à nossa volta
sussurrava na folhagem
gorgolejante junto a
nós, sempre invertendo a postura..
Enfraquecida a água
da fonte ainda fulgura
pelo jardim. E nada
se incendeia.
Referência:
LOWELL, Robert. The public garden / O
jardim público. Tradução de Paulo Vizioli. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e
Tradução). Poetas norte-americanos. Edição
comemorativa do bicentenário da independência dos Estados Unidos da América:
1776-1976. Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Editora Lidador, 1974. Em inglês
e em português: p. 130.
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