Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Yehuda Amichai - Aeromoça

Um poema bem engraçado para o dia: Amichai, em interação imaginosa ou real com uma aeromoça, dialoga com ela de forma cifrada, a partir de ordens ou afirmações que ficam pela metade, pois não se estendem a oferecer maiores detalhes sobre o ponto até onde ambos pretendem chegar – ainda que se possa presumi-lo por simples inferência.

Mas a moça está “vacinada” contra investidas de “aventureiros” do amor, pois que, segundo o poeta, “pertence ao partido conservador / dos amantes de um só grande amor na vida”. Conclusão: o contato não passará de trivial interação nesse meio tão fugaz para se ter algo que represente mais estabilidade nas relações humanas.

J.A.R. – H.C.
  
Yehuda Amichai
(1924-2000)

A Aeromoça

A aeromoça disse para apagarmos todo material de fumar
ela não detalhou, cigarro, charuto ou cachimbo.
Respondi-lhe no meu coração: Tu tens um belo material
de amar,
eu também não detalhei.

Ela disse para eu apertar o cinto e me prender
na poltrona, eu lhe respondi:
Queria que todas as fivelas na minha vida tivessem a forma
da sua boca.

Ela disse: Tu queres café agora ou depois,
ou de modo algum. E passou por mim.
Alta até os céus.

A pequena cicatriz no alto do seu braço
atestava que ela jamais será atingida pela varíola.
Os seus olhos atestavam que ela jamais se apaixonará de novo:
ela pertence ao partido conservador
dos amantes de um só grande amor na vida.

Beleza parisiense
(Konstantin Razumov: pintor russo)

Referência:

AMICHAI, Yehuda. A aeromoça. Tradução de Moacir Amâncio. In: __________. Terra e paz: antologia poética. Organização e tradução de Moacir Amâncio. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2018. p. 87.

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