Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Cláudio Murilo Leal - Caderno de Proust

A vida literária é assim: enquanto alguns detestam “Em Busca do Tempo Perdido”, de Proust – a exemplo de Tom Disch –, outros cantam loas à extensa obra – como, no presente caso, o literato e poeta carioca. Fazer o quê? Os gostos diferem bastante leitor a leitor, muito embora haja um elenco de obras a formar um pretenso cânone literário ocidental – aliás, em que a série do francês quase sempre é inserta.

Por outro lado, há ainda terceiros que se valem da obra de Proust para, a partir dela, fundar “novos mundos”: cito “Como Proust pode mudar sua vida”, do suíço Alain de Botton, autor de livros que, por vezes, fazem-me lembrar os moldes de diversos trabalhos de André Comte-Sponville ou mesmo de Luc Ferry, ambos numa linha de filosofia mais aberta, voltada a difundir a matéria junto aos leitores.

J.A.R. – H.C.

Cláudio Murilo Leal
(n. 1937)

Caderno de Proust

Marcel ilumina pretéritos personagens
que os de corpo presente são opacos.
O agro sabor da mítica madalena
é uma lembrança que atravessa portas e

janelas, despregando cortiça e memória.
Alonga-se o infindável parágrafo
para além dos enredos – o caderno
recolhe resíduos sob espécie de Romance.

Ontem, noites e dias insepultos,
uma realidade cúmplice.
Retornam miragens, fantasias de infância,
confunde-se a grafia dos relógios.
(Pêndulo de sombras e silêncio.)
O leitor desvela o mágico passado.

Em: “Caderno de Proust” (1982)

Boulevard Montmartre
(Camille Pissarro: pintor francês)

Referência:

LEAL, Cláudio Murilo. Caderno de Proust. In: SEFFRIN, André (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia brasileira: anos 50. 1. ed. São Paulo, SP: Global, 2007. p. 215-216.

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