É na sequência dos dias que o poeta percebe o ritual reiterado do
trabalho, do quotidiano da vida e, por que não, da diversão. Mas o leitor terá
percebido o motivo pelo qual Larkin menciona o padre e o médico a correr pelos
campos? Claro está: refere-se ele ao momento da morte dos habitantes da área.
Afinal, o médico vai até o paciente para medicar-lhe os remédios capazes
de contornar os riscos de sua saúde, e o padre, eventualmente, para administrar
ao moribundo os derradeiros ritos, ou melhor, a extrema-unção. Conclusão: ao
longo dos dias, correm tanto a vida e os seus contratempos, quanto a morte que,
aos olhos do poeta, é um tipo de desígnio inamovível.
J.A.R. – H.C.
Philip Larkin
(1922-1985)
Days
What are days for?
Days are where we
live.
They come, they wake
us
Time and time over.
They are to be happy
in:
Where can we live but
days?
Ah, solving that
question
Brings the priest and
the doctor
In their long coats
Running over the
fields.
Bebendo chá em Mytishchi
(perto de Moscow)
(Vasily Grigorevich
Perov: pintor russo)
Os Dias
Para que servem os
dias?
Os dias são o meio onde
vivemos.
Eles vêm, nos despertam
Vezes sem conta.
Servem para que,
neles, sejamos felizes:
Onde poderíamos viver
senão nos dias?
Ah, solucionar essa
questão
Leva o padre e o médico
Em seus longos sobretudos
A correr pelos
campos.
Referência:
LARKIN, Philip. Days. In: BREHM, John
(Ed.). The poetry of impermanence,
mindfulness and joy. Somerville, MA: Wisdom Publications, 2017. p. 55.
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