Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 2 de novembro de 2019

Luis Beltrán Prieto Figueroa - Decreto das Cigarras

Apesar de relativamente breve, este poema de Figueroa evidencia o que de mais sublime há na gnose da natureza, a providenciar que tudo aconteça no momento oportuno – os ipês a florescer sempre numa época do ano, as mangueiras abarrotadas de frutos e, no caso avocado, as cigarras a anunciarem o verão.

E o anúncio, como se sabe, é aquele ressonante canto dos machos, estridulante e perturbador: afinal, as cigarras afloram da terra para acasalarem-se exatamente no período mais quente no ano. E a quem atravessa o terreno onde elas se fixam em troncos de árvores só resta o apelo de tentar tapar os ouvidos ao fragor.

J.A.R. – H.C.

Luis Beltrán P. Figueroa
(1902-1993)

Decreto de Cigarras

Se partió la tarde
con el largo cuchillo
de un grito de cigarra.

Por la cortada luz
pasa una gota de silencio
que escapó de la estridencia,
com pálpito de susto,
tapados los oídos
fue en busca de un refugio.

Las cigarras
en la mitad del día
derogaron el silencio:
habían decretado el verano.

(1978)

Celebração da Cigarra
(Lynn Young: pintora norte-americana)

Decreto das Cigarras

Partiu-se a tarde
com a lâmina longa
de um grito de cigarra.

Na luz cortada
escorre uma gota de silêncio
escapado à estridência,
palpitar de susto,
os ouvidos tapados
em busca de refúgio.

As cigarras
no meio do dia
derrogaram o silêncio:
tinham decretado o verão.

(1978)

Referência:

FIGUEROA, Luis Beltrán Prieto. Decreto de cigarras / Decreto das cigarras. Tradução de José Santiago Naud. In: __________. Verba minima. Tradução de José Santiago Naud. Caracas, VE: Anauco Ediciones, 2005. Em espanhol: p. 28; em português: p. 29.

Nenhum comentário:

Postar um comentário