Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 3 de novembro de 2019

Donald Davidson - Sobre uma réplica do Partenon

O poeta deplora o fato de haver sido construída em Nashville, Tennessee, exatamente na cidade onde veio a falecer, uma réplica em escala real do Partenon, como parte da comemoração da Exposição do Centenário daquele Estado norte-americano, em 1897. Nem se diga dos efeitos comerciais promovidos pelo turismo à volta das instalações.

O que se objeta, de fato, é o agitado apego aos interesses materiais em jogo, num mundo frenético e desarmônico, no qual a especulação imobiliária converte a urbe num cenário bizarro, a muito contrastar com a tranquila simplicidade da Grécia clássica, onde o Partenon pairava soberano numa das colinas da Acrópole de Atenas.

J.A.R. – H.C.

Donald Davidson
(1893-1968)

On a replica of the Parthenon

Why do they come? What do they seek
Who build but never read their Greek?
The classic stillness of a pool
Beleaguered in its certitude
By aimless motors that can make
Only incertainty more sure;
And where the willows crowd the pure
Expanse of clouds and blue that stood
Around the gables Athens wrought,
Shopgirls embrace a plaster thought,
And eye Poseidon’s loins ungirt,
And never heed the brandished spear
Or feel the bright-eyed maiden’s rage
Whose gaze the sparrows violate;
But the sky drips its spectral dirt,
And gods, like men, to soot revert.
Gone is the mild, the serene air.
The golden years are come too late.
Pursue not wisdom or virtue here,
But what blind motion, what dim last
Regret of men who slew their past
Raised up this bribe against their fate.

Partenon
(Maria S. Barry: pintora inglesa)

Sobre uma réplica do Partenon

Por que eles se aproximam? O que buscam
Aqueles que o constroem, mas nunca leem o grego?
A quietude clássica de um espelho d’água
Importunada em sua certeza
Por motores erráticos que somente podem fazer
Com que mais segura seja a incerteza;
E onde os salgueiros se apinham na pura
Extensão das nuvens e do azul a erguerem-se
Ao redor dos frontões forjados por Atenas,
As vendedoras adotam um pensamento engessado,
Olham as lassas espáduas de Poseidon
E nunca escutam a lança brandida
Nem sentem a ira da donzela de olhos brilhantes
Cuja mirada os pardais violam;
Mas o céu goteja sua espectral sujidade,
E os deuses, como os homens, à fuligem revertem.
Ficou para trás o ar suave e sereno.
Os anos dourados chegaram tarde demais.
Não busques aqui a sabedoria ou a virtude,
Senão mais que uma cega moção, um derradeiro
Pesar dos homens que aniquilaram o seu passado
E levantaram tal suborno contra o seu destino.

Referência:

DAVIDSON, Donald. On a replica of the Parthenon. In: __________. Poems: 1922-1961. 8th. print. Minneapolis, MN: University of Minnesota Press, 1966. p. 64.

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