O amor como força que se exprime por meio de paradoxos: neste jubiloso
poema, a poetisa enfatiza como dele tudo ela espera e, contraditoriamente, como
aspira a viver uma vida desnuda, sem qualquer vestígio de memórias – nem mesmo
daqueles anelos de que o seu amado lhe sussurrasse na boca as palavras de cujo
sabor se intui a presença desse máximo sentimento.
É o amor, como diz Camões, tão contrário a si mesmo, fruto de
dualidades, ambiguidades, contradições. E quem já não as experimentou, se
desiludiu, mas, ainda assim, continua a prender-se a esse sentimento que, não
tendo exata explicação, perdura como o motivo maior capaz de nos manter literalmente
vivos.
J.A.R. – H.C.
Tracy K. Smith
(n. 1972)
Credulity
We believe we are
giving ourselves away,
And so it feels good,
Our bodies swimming together
In afternoon light,
the music
That enters our
window as far
From the voices that
made it
As our own minds are
from reason.
There are whole
doctrines on loving.
A science. I would
like to know everything
About convincing love
to give me
What it does not
possess to give. And then
I would like to know
how to live with nothing.
Not memory. Nor the
taste of the words
I have willed you
whisper into my mouth.
Garota Interrompida em Sua Música
(Johannes Vermeer:
pintor holandês)
Credulidade
Cremos que nos
estamos entregando,
E por isso nos
sentimos bem,
Nossos corpos
flutuando juntos
À luz da tarde, a
música
Que entra por nossa
janela tão distanciada
Das vozes que a engendraram,
Tanto quanto nossas
próprias mentes longe da razão.
Há doutrinas inteiras
sobre o amor.
Uma ciência. Gostaria
de tudo conhecer
Sobre convencer o
amor a me dar
O que ele não dispõe
para dar. E então
Gostaria de saber
como viver sem nada.
Nenhuma memória. Nem
o sabor das palavras
Que em minha boca
desejei que sussurrasses.
Referência:
SMITH, Tracy K. Credulity. In: BREHM,
John (Ed.). The poetry of impermanence,
mindfulness and joy. Somerville, MA: Wisdom Publications, 2017. p. 167.
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