É sobre o outono da vida que Levi aqui reflete, o exato momento em que o
sol se põe para o homem que é chama extinta e areia de estuário, ele que passou
por tempestades e pesadelos, e agora já não tem ânsias de conquistas, podendo, enfim,
encontrar a paz.
E a chegada metaforiza-se num descanso à beira da estrada, uma alegria
singela, plena de serenidade, sem pressas, pensamentos desditosos ou
sentimentos de desagravo, cenário no qual o homem de muitas auroras já não exibe
as linhas do destino nas mãos, pois elas mesmas tê-las-ão apagado.
J.A.R. – H.C.
Primo Levi
(1919-1987)
Approdo*
Felice l’uomo che ha
raggiunto il porto,
che lascia dietro di
sè mari e tempeste,
i cui sogni sono
morti o mai nati;
e siede a bere all’osteria
di Brema,
presso al camino, ed
ha buona pace.
Felice l’uomo come
una fiamma spenta,
felice l’uomo come
sabbia d’estuario,
che ha deposto il
carico e si è tersa la fronte
e riposa al margine
del cammino.
Non teme né spera né
aspetta,
ma guarda fisso il
sole che tramonta.
10 settembre 1964
Repouso à margem do caminho
(John N. Rhodes:
pintor inglês)
Chegada
Feliz o homem que
alcançou o porto,
Que deixa atrás de si
mares e tormentas,
Cujos sonhos estão mortos
ou jamais nasceram;
E se senta e bebe na
taberna de Bremen,
Perto da lareira, e
está em paz.
Feliz o homem como
uma chama extinta,
Feliz o homem como
areia de estuário,
Que depôs a carga e
limpou a fronte
E repousa à beira do
caminho.
Não teme nem espera
nem aguarda,
Mas olha fixo o sol
que se põe.
10 de setembro de 1964
Nota:
* Cf. H. Heine, Buch der Lieder, “Die Nordsee”, Iln Zyklus, n. 9: “Glücklich der Mann, der den Hafen erreicht
hat...”. [N.A.]
Referência:
LEVI, Primo. Approdo / Chegada. Tradução
de Maurício Santana Dias. In: __________. Mil
sóis: poemas escolhidos. Seleção, tradução e apresentação de Maurício
Santana Dias. 1. ed. São Paulo, SP: Todavia, 2019. Em italiano: p. 48; em
português: p. 49.
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