Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Hilda Hilst - XIX, Trovas de muito amor para um amado senhor

Com seis tercetos com rima “aba”, esta seção das trovas de Hilst dialoga com o famoso soneto de Camões, quer pelo linguajar característico empregado, assaz comum nos sonetos do autor lusitano, quer por se associar à ideia sintetizada no verso definidor do amor – “É dor que desatina sem doer”.

E pelo sentido que se pode extrair do derradeiro terceto, percebe-se que a poetisa dedica ao seu senhor um amor que se pretende eterno, embora algo assemelhado ao do segundo terceto do “Soneto à Fidelidade”, de Vinicius de Moraes: “Eu possa me dizer do amor (que tive): / Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure”.

J.A.R. – H.C.

Hilda Hilst
(1930-2004)

XIX, Trovas de muito amor
para um amado senhor

Se amor é merecimento
Tenho servido a Deus
Mui a contento.

Se é vosso meu pensamento
Em verdade vos dei
Consentimento.

E se mereci tal vida
Plena de amor e serena
Foi muito bem merecida.

E em me sabendo querida
Dos anjos e do meu Deus
Na morte pressinto a vida.

E o que se diz sofrimento
No meu sentir é agora
Contentamento.

E se amor morre com o tempo
Amor não é o que sinto
Neste momento.

(1960)

Almoço sobre o relvado
(Édouard Manet: pintor francês)

Referência:

HILST, Hilda. XIX, Trovas de muito amor para um amado senhor. In: __________. De amor tenho vivido. Ilustrações de Ana Prata. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2018. p. 70.

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