Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Konstantinos Kaváfis - À espera dos bárbaros

Apesar dos elementos contingentes, expressamente nomeados pelo poeta grego, a fazerem referência a um passado da Roma antiga, o poema abaixo, de fato, mostra-se genuinamente simbólico, pois os sinais de declínio a que alude podem ser apresentados por quaisquer sociedades, a qualquer momento.

As imagens teatralizadas do poema permitem divisar um estado de ansiedade e espera, terminando, abruptamente, na negação da própria aspiração: é como se falássemos de uma nação como os EUA, que, depois de atingir certo estágio civilizatório, vem entregando o poder aos bárbaros – Donald Trump o que seria? Aliás, de modo semelhante ao que, recentemente, aconteceu em Pindorama, com os seus “brucutus”!

Tem-se citado amiúde este poema, porque bem se amolda à divisão da Europa, após a Segunda Guerra Mundial, pela Guerra Fria. Ninguém parece haver prestado atenção à data de sua escrita, 1898. Kaváfis, embora tenha explorado em seus poemas todos os aspectos de seu mundo helenístico, incluindo o império bizantino de fala grega, apreendeu a palavra “bárbaro” em seu significado original em grego, como aplicado a todos aqueles que estão do lado de fora e enunciam, em lugar do discurso humano, algaravias incoerentes. Sua intuição permitiu-lhe captar uma oposição secular entre o interior e o exterior da civilização. (MILOSZ, 1998, p. 305)

J.A.R. – H.C.

Konstantinos Kaváfis
(1863-1933)

Περιμένοντας τους βαρβάρους

Τί περιμένουμε στην αγορά συναθροισμένοι;

Είναι οι βάρβαροι να φθάσουν σήμερα.

Γιατί μέσα στην Σύγκλητο μια τέτοια απραξία;
Τί κάθοντοι Συγκλητικοί και δεν νομοθετούνε;

Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα.
Τί νόμους πια θα κάμουν οι Συγκλητικοί;
Οι βάρβαροι σαν έλθουν θα νομοθετήσουν.

Γιατί ο αυτοκράτωρ μας τόσο πρωί σηκώθη,
και κάθεται στης πόλεως την πιο μεγάλη πύλη
στον θρόνο επάνω, επίσημος, φορώντας την κορόνα;

Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα.
Κι ο αυτοκράτωρ περιμένει να δεχθεί
τον αρχηγό τους. Μάλιστα ετοίμασε
για να τον δώσει μια περγαμηνή. Εκεί
τον έγραψε τίτλους πολλούς κι ονόματα.

Γιατί οι δυο μας ύπατοι κι οι πραίτορες εβγήκαν
σήμερα με τες κόκκινες, τες κεντημένες τόγες·
γιατί βραχιόλια φόρεσαν με τόσους αμεθύστους,
και δαχτυλίδια με λαμπρά, γυαλιστερά σμαράγδια·
γιατί να πιάσουν σήμερα πολύτιμα μπαστούνια
μασήμια και μαλάματα έκτακτα σκαλιγμένα;

Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα·
και τέτοια πράγματα θαμπώνουν τους βαρβάρους.

Γιατί κι οι άξιοι ρήτορες δεν έρχονται σαν πάντα
να βγάλουνε τους λόγους τους, να πούνε τα δικά τους;

Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα·
κι αυτοί βαριούντευφράδειες και δημηγορίες.

Γιατί ναρχίσει μονομιάς αυτή η ανησυχία
κι η σύγχυσις. (Τα πρόσωπα τί σοβαρά που εγίναν).
Γιατί αδειάζουν γρήγορα οι δρόμοι κι οι πλατέες,
κι όλοι γυρνούν στα σπίτια τους πολύ συλλογισμένοι;

Γιατί ενύχτωσε κι οι βάρβαροι δεν ήλθαν.
Και μερικοί έφθασαν απ’ τα σύνορα,
και είπανε πως βάρβαροι πια δεν υπάρχουν.

Και τώρα τί θα γένουμε χωρίς βαρβάρους.
Οι άνθρωποι αυτοί ήσαν μια κάποια λύσις.

Os Bárbaros
(Max Ernst: pintor alemão)

À espera dos bárbaros

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos,
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloquências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

Referências:

Em Grego

ΚΑΒΆΦΗΣ, Κωνσταντίνος. Περιμένοντας τους Βαρβάρους. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 abr. 2019.

Em Português

KAVÁFIS, Konstantinos. À espera dos bárbaros. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, estudo crítico, notas e tradução por José Paulo Paes. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1982. p. 106-107. (Coleção ‘Poiesis’)

MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998.

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