Apesar dos elementos contingentes, expressamente nomeados pelo poeta
grego, a fazerem referência a um passado da Roma antiga, o poema abaixo, de
fato, mostra-se genuinamente simbólico, pois os sinais de declínio a que alude
podem ser apresentados por quaisquer sociedades, a qualquer momento.
As imagens teatralizadas do poema permitem divisar um estado de
ansiedade e espera, terminando, abruptamente, na negação da própria aspiração:
é como se falássemos de uma nação como os EUA, que, depois de atingir certo
estágio civilizatório, vem entregando o poder aos bárbaros – Donald Trump o que
seria? Aliás, de modo semelhante ao que, recentemente, aconteceu em Pindorama,
com os seus “brucutus”!
Tem-se citado amiúde este poema, porque
bem se amolda à divisão da Europa, após a Segunda Guerra Mundial, pela Guerra
Fria. Ninguém parece haver prestado atenção à data de sua escrita, 1898.
Kaváfis, embora tenha explorado em seus poemas todos os aspectos de seu mundo
helenístico, incluindo o império bizantino de fala grega, apreendeu a palavra
“bárbaro” em seu significado original em grego, como aplicado a todos aqueles
que estão do lado de fora e enunciam, em lugar do discurso humano, algaravias
incoerentes. Sua intuição permitiu-lhe captar uma oposição secular entre o
interior e o exterior da civilização. (MILOSZ, 1998, p. 305)
J.A.R. – H.C.
Konstantinos Kaváfis
(1863-1933)
Περιμένοντας τους βαρβάρους
– Τί περιμένουμε στην αγορά συναθροισμένοι;
Είναι οι βάρβαροι να φθάσουν σήμερα.
– Γιατί μέσα στην Σύγκλητο μια τέτοια απραξία;
Τί κάθοντ’ οι Συγκλητικοί και δεν νομοθετούνε;
Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα.
Τί νόμους πια θα κάμουν οι Συγκλητικοί;
Οι βάρβαροι σαν έλθουν θα νομοθετήσουν.
– Γιατί ο αυτοκράτωρ μας τόσο πρωί σηκώθη,
και κάθεται στης πόλεως την πιο μεγάλη πύλη
στον θρόνο επάνω, επίσημος, φορώντας την κορόνα;
Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα.
Κι ο αυτοκράτωρ περιμένει να δεχθεί
τον αρχηγό τους. Μάλιστα ετοίμασε
για να τον δώσει μια περγαμηνή. Εκεί
τον έγραψε τίτλους πολλούς κι ονόματα.
– Γιατί οι δυο μας ύπατοι κι οι πραίτορες εβγήκαν
σήμερα με τες κόκκινες, τες κεντημένες τόγες·
γιατί βραχιόλια φόρεσαν με τόσους αμεθύστους,
και δαχτυλίδια με λαμπρά, γυαλιστερά σμαράγδια·
γιατί να πιάσουν σήμερα πολύτιμα μπαστούνια
μ’ ασήμια και μαλάματα έκτακτα σκαλιγμένα;
Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα·
και τέτοια πράγματα θαμπώνουν τους βαρβάρους.
– Γιατί κι οι άξιοι ρήτορες δεν έρχονται σαν πάντα
να βγάλουνε τους λόγους τους, να πούνε τα δικά τους;
Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα·
κι αυτοί βαριούντ’ ευφράδειες και δημηγορίες.
– Γιατί ν’ αρχίσει μονομιάς αυτή η ανησυχία
κι η σύγχυσις. (Τα πρόσωπα τί σοβαρά που εγίναν).
Γιατί αδειάζουν γρήγορα οι δρόμοι κι οι πλατέες,
κι όλοι γυρνούν στα σπίτια τους πολύ συλλογισμένοι;
Γιατί ενύχτωσε κι οι βάρβαροι δεν ήλθαν.
Και μερικοί έφθασαν απ’ τα σύνορα,
και είπανε πως βάρβαροι πια δεν υπάρχουν.
Και τώρα τί θα γένουμε χωρίς βαρβάρους.
Οι άνθρωποι αυτοί ήσαν μια κάποια λύσις.
Os Bárbaros
(Max Ernst: pintor
alemão)
À espera dos bárbaros
O que esperamos na
ágora reunidos?
É que os bárbaros
chegam hoje.
Por que tanta apatia
no senado?
Os senadores não
legislam mais?
É que os bárbaros
chegam hoje.
Que leis hão de fazer
os senadores?
Os bárbaros que
chegam as farão.
Por que o imperador
se ergueu tão cedo
e de coroa solene se
assentou
em seu trono, à porta
magna da cidade?
É que os bárbaros
chegam hoje.
O nosso imperador
conta saudar
o chefe deles. Tem
pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual
estão escritos
muitos nomes e
títulos.
Por que hoje os dois
cônsules e os pretores
usam togas de
púrpura, bordadas,
e pulseiras com
grandes ametistas
e anéis com tais
brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham
bastões tão preciosos,
de ouro e prata
finamente cravejados?
É que os bárbaros
chegam hoje,
tais coisas os
deslumbram.
Por que não vêm os
dignos oradores
derramar o seu verbo
como sempre?
É que os bárbaros
chegam hoje
e aborrecem arengas,
eloquências.
Por que subitamente
esta inquietude?
(Que seriedade nas
fisionomias!)
Por que tão rápido as
ruas se esvaziam
e todos voltam para
casa preocupados?
Porque é já noite, os
bárbaros não vêm
e gente recém-chegada
das fronteiras
diz que não há mais
bárbaros.
Sem bárbaros o que
será de nós?
Ah! eles eram uma
solução.
Referências:
Em Grego
ΚΑΒΆΦΗΣ,
Κωνσταντίνος. Περιμένοντας τους Βαρβάρους. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 abr. 2019.
Em Português
KAVÁFIS, Konstantinos. À espera dos
bárbaros. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, estudo crítico, notas e tradução por José Paulo
Paes. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1982. p. 106-107. (Coleção ‘Poiesis’)
MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international
anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt,
1998.
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