Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Walt Whitman - Eu sou o poeta

O poeta reafirma o valor de nossos sentidos para deduzirmos as coisas que compõem o plano da realidade, pois os fenômenos são aquilo que, de algum modo, expressam algum significado para nós, os humanos – com o que, a seus olhos, seriam estéreis os longos debates sobre a pretensa objetividade que estaria por trás de todos os prodígios.

Por outras palavras, bem se vê que Whitman entra em disputa contra a filosofia idealista, pois não considera a multiplicidade do mundo uma quimera ilusória, haja vista a amplitude que confere às suas experiências – profusamente cósmica –, sem excluir ou negar nada, para que se possa alcançar a verdade no cerne da realidade. Por conclusão, poder-se-ia deduzir: o poeta não é um mero sonhador ou visionário, recluso em sua torre de marfim, divorciado da sombria realidade da vida.

A forte presença de uma coisa descrita significa que o poeta acredita em sua existência real. Tal é o significado de um poema programático e inacabado de Walt Whitman, “Eu sou o Poeta”, que reabilita uma abordagem “ingênua” e rejeita a opinião desfavorável da filosofia sobre o testemunho direto de nossos sentidos. (MILOSZ, 1998, p. 53)

J.A.R. – H.C.

Walt Whitman
(1819-1892)

I am the poet

I am the poet of reality
I say the earth is not an echo
Nor man an apparition;
But that all things seen are real,
The witness and albic dawn of things equally real
I have split the earth and the hard coal and rocks and
the solid bed of the sea
And went down to reconnoitre there a long time,
And bring back a report,
And I understand that those are positive and dense every one
And that what they seem to the child they are
[And that the world is not a joke,
Nor any part of it a sham].

Enfeitiçada
(Glen Tarnowski: pintor norte-americano)

Eu sou o poeta

Sou o poeta da realidade
E afirmo que a terra não é um eco,
Tampouco o homem um espectro;
Senão que todas as coisas vistas são reais,
assim como são reais o olhar probante e a aurora
alabastrina das coisas.
Eu cindi a terra e o duro carvão e as rochas e
o leito sólido do mar,
E ali desci por um longo tempo para reconhecer o terreno,
E trazer de volta um relato,
Pelo que reputo serem todos eles positivos e densos,
E são, ainda, o que quer que pareçam a uma criança.
[E o mundo não é uma piada,
nem parte dele é uma farsa].

Referências:

WHITMAN, Walt. I am the poet. In: MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 53.

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