O poeta reafirma o valor de nossos sentidos para deduzirmos as coisas
que compõem o plano da realidade, pois os fenômenos são aquilo que, de algum
modo, expressam algum significado para nós, os humanos – com o que, a seus olhos,
seriam estéreis os longos debates sobre a pretensa objetividade que estaria por
trás de todos os prodígios.
Por outras palavras, bem se vê que Whitman entra em disputa contra a
filosofia idealista, pois não considera a multiplicidade do mundo uma quimera
ilusória, haja vista a amplitude que confere às suas experiências –
profusamente cósmica –, sem excluir ou negar nada, para que se possa alcançar a
verdade no cerne da realidade. Por conclusão, poder-se-ia deduzir: o poeta não
é um mero sonhador ou visionário, recluso em sua torre de marfim, divorciado da
sombria realidade da vida.
A forte presença de uma coisa descrita
significa que o poeta acredita em sua existência real. Tal é o significado de
um poema programático e inacabado de Walt Whitman, “Eu sou o Poeta”, que
reabilita uma abordagem “ingênua” e rejeita a opinião desfavorável da filosofia
sobre o testemunho direto de nossos sentidos. (MILOSZ, 1998, p. 53)
J.A.R. – H.C.
Walt Whitman
(1819-1892)
I am the poet
I am the poet of
reality
I say the earth is
not an echo
Nor man an
apparition;
But that all things
seen are real,
The witness and albic
dawn of things equally real
I have split the
earth and the hard coal and rocks and
the solid bed of the
sea
And went down to
reconnoitre there a long time,
And bring back a
report,
And I understand that
those are positive and dense every one
And that what they
seem to the child they are
[And that the world
is not a joke,
Nor any part of it a
sham].
Enfeitiçada
(Glen Tarnowski:
pintor norte-americano)
Eu sou o poeta
Sou o poeta da
realidade
E afirmo que a terra
não é um eco,
Tampouco o homem um espectro;
Senão que todas as
coisas vistas são reais,
assim como são reais
o olhar probante e a aurora
alabastrina das
coisas.
Eu cindi a terra e o
duro carvão e as rochas e
o leito sólido do mar,
E ali desci por um
longo tempo para reconhecer o terreno,
E trazer de volta um
relato,
Pelo que reputo serem
todos eles positivos e densos,
E são, ainda, o que
quer que pareçam a uma criança.
[E o mundo não é uma
piada,
nem parte dele é uma
farsa].
Referências:
WHITMAN, Walt. I am the poet. In: MILOSZ,
Czeslaw (Ed.). A book of luminous
things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY:
Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 53.
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