Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Miguel Torga - Somos todos poetas

O poeta dá vazão ao sentimento que em toda parte ressoa com um bordão: todos somos poetas, porque somos capazes, sem exceção, de sonhar acordados – e olha que nem se precisam de efeitos psicotrópicos para engendrar miríades de universos alternativos a este em que estamos imersos –, o qual, ponderemos, nem sempre é capaz de se nos mostrar satisfatório!

E é por meio da emoção, da verbalização da consciência em relação à cadência de cada momento, que se manifesta o moto primário a partir do qual, pelo tronco do poema, se desenvolvem folhas necessárias e outras nem tanto: isto porque do contraste entre polos distintos é que desponta a lucidez quanto àquilo que seja a forma ideal do bem, do belo e do verdadeiro.

J.A.R. – H.C.

Miguel Torga
(1907-1995)

Somos todos poetas

Porque não queres os versos que te nascem
Como rebentos pelo tronco acima?
Porque não queres a inesperada rima
Dos sentimentos?
Olha que a vida tem desses momentos
Que se articulam numa cadência
Tão imprevista,
Que é uma conquista
Da consciência
Não ser um túnel de negação...
Brotam as folhas que são precisas
E outras folhas que o não são.

A Busca de Andrômeda
(Josephine Wall: artista inglesa)

Referência:

TORGA, Miguel. Somos todos poetas. In: __________. Cântico do homem: poesia. 4. ed. Coimbra, PT: Gráfica de Coimbra, jan.1974. p. 52.

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