O poeta dá vazão ao sentimento que em toda parte ressoa com um bordão:
todos somos poetas, porque somos capazes, sem exceção, de sonhar acordados – e
olha que nem se precisam de efeitos psicotrópicos para engendrar miríades de
universos alternativos a este em que estamos imersos –, o qual, ponderemos, nem
sempre é capaz de se nos mostrar satisfatório!
E é por meio da emoção, da verbalização da consciência em relação à
cadência de cada momento, que se manifesta o moto primário a partir do qual,
pelo tronco do poema, se desenvolvem folhas necessárias e outras nem tanto: isto
porque do contraste entre polos distintos é que desponta a lucidez quanto
àquilo que seja a forma ideal do bem, do belo e do verdadeiro.
J.A.R. – H.C.
Miguel Torga
(1907-1995)
Somos todos poetas
Porque não queres os
versos que te nascem
Como rebentos pelo
tronco acima?
Porque não queres a
inesperada rima
Dos sentimentos?
Olha que a vida tem
desses momentos
Que se articulam numa
cadência
Tão imprevista,
Que é uma conquista
Da consciência
Não ser um túnel de
negação...
Brotam as folhas que
são precisas
E outras folhas que o
não são.
A Busca de Andrômeda
(Josephine Wall:
artista inglesa)
Referência:
TORGA, Miguel. Somos todos poetas. In:
__________. Cântico do homem:
poesia. 4. ed. Coimbra, PT: Gráfica de Coimbra, jan.1974. p. 52.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário