Não se engane o leitor: é a apologia do
sexo feminino que aparece como tema do soneto do poeta francês, junto ao qual
esteve por quatro noites empunhando a sua “vela acesa”, sempre com domada
presteza por parte desse “buraco de amavios”, ou por outra, desse “matagal
obscuro”.
E para acompanhar o poema nada melhor que a pintura de Coubert – “A origem do mundo” –, exposta numa das alas do
Musée D’Orsay, em Paris, a provocar nos visitantes menos desavisados um certo
ar de espanto puritano. Afinal, qual a diferença da naturalidade da pintura do
autor francês para as imagens ao vivo que se podem acessar nos endereços
pornográficos aos montes na internet?!...
J.A.R. – H.C.
Pierre de Ronsard
(1524-1585)
Je te salue, ô merveillette fente
Je te salue, ô
merveillette fente,
Qui vivement entre
ces flancs reluis;
Je te salue, ô
bienheureux pertuis,
Qui rend ma vie
heureusement contente!
C’est toi qui fais
que plus ne me tourmente
L’archer volant qui
causait mes ennuis;
T’ayant tenu
seulement quatre nuits
Je sens sa force en
moi déjà plus lente.
Ô petit trou, trou
mignard, trou velu,
D’un poil folet
mollement crespelu,
Qui à ton gré domptes
les plus rebelles:
Tous vers galans
devraient, pour t’honorer,
A beaux genoux te
venir adorer,
Tenant au poing leurs
flambantes chandelles!
A Origem do Mundo
(Gustave Courbet:
pintor francês)
Eu te saúdo, fenda de portentos
Eu te saúdo, fenda de
portentos,
A luzir entre dois
flancos macios;
Saúdo-te, buraco de
amavios,
Que dás ao meu viver
contentamento.
Enfim me libertaste
dos tormentos
Do alado arqueiro e
dos meus desvarios;
Só quatro noites eu
te possuí e o
Poder do arqueiro
fez-se em mim mais lento.
Pequeno furo, furo
arteiro, furo
Tão bem guardado em
matagal obscuro,
Que ao mais rebelde
domas com presteza:
Todo vero galã, para
te honrar,
Devia de joelhos te
adorar,
Firme empunhando a
sua vela acesa!
Referência:
RONSARD, Pierre de. Je te salue, ô
merveillette fente / Eu te saúdo, fenda de portentos. Tradução de José Paulo
Paes. In: PAES, José Paulo (Seleção, tradução, introdução e notas). Poesia erótica em tradução. Edição
bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2006. Em francês: p. 102; em
português: p. 103.
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