Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Pierre de Ronsard - Eu te saúdo, fenda de portentos

Não se engane o leitor: é a apologia do sexo feminino que aparece como tema do soneto do poeta francês, junto ao qual esteve por quatro noites empunhando a sua “vela acesa”, sempre com domada presteza por parte desse “buraco de amavios”, ou por outra, desse “matagal obscuro”.

E para acompanhar o poema nada melhor que a pintura de Coubert – “A origem do mundo” –, exposta numa das alas do Musée D’Orsay, em Paris, a provocar nos visitantes menos desavisados um certo ar de espanto puritano. Afinal, qual a diferença da naturalidade da pintura do autor francês para as imagens ao vivo que se podem acessar nos endereços pornográficos aos montes na internet?!...

J.A.R. – H.C.

Pierre de Ronsard
(1524-1585)

Je te salue, ô merveillette fente

Je te salue, ô merveillette fente,
Qui vivement entre ces flancs reluis;
Je te salue, ô bienheureux pertuis,
Qui rend ma vie heureusement contente!

C’est toi qui fais que plus ne me tourmente
L’archer volant qui causait mes ennuis;
T’ayant tenu seulement quatre nuits
Je sens sa force en moi déjà plus lente.

Ô petit trou, trou mignard, trou velu,
D’un poil folet mollement crespelu,
Qui à ton gré domptes les plus rebelles:

Tous vers galans devraient, pour t’honorer,
A beaux genoux te venir adorer,
Tenant au poing leurs flambantes chandelles!

A Origem do Mundo
(Gustave Courbet: pintor francês)

Eu te saúdo, fenda de portentos

Eu te saúdo, fenda de portentos,
A luzir entre dois flancos macios;
Saúdo-te, buraco de amavios,
Que dás ao meu viver contentamento.

Enfim me libertaste dos tormentos
Do alado arqueiro e dos meus desvarios;
Só quatro noites eu te possuí e o
Poder do arqueiro fez-se em mim mais lento.

Pequeno furo, furo arteiro, furo
Tão bem guardado em matagal obscuro,
Que ao mais rebelde domas com presteza:

Todo vero galã, para te honrar,
Devia de joelhos te adorar,
Firme empunhando a sua vela acesa!

Referência:

RONSARD, Pierre de. Je te salue, ô merveillette fente / Eu te saúdo, fenda de portentos. Tradução de José Paulo Paes. In: PAES, José Paulo (Seleção, tradução, introdução e notas). Poesia erótica em tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2006. Em francês: p. 102; em português: p. 103.

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