O poeta imagina encontrar-se carente de inspiração, a ponto de nem mais
pensar em versos: sendo um autor vindo da área de ciências exatas, tudo se lhe
apresenta como números, equações, moléculas, “átomos da métrica”, que já nem se
mostram primigênios, porque tantas vezes percorridos no exercício da vida
prática.
Há suficientes autoparódias nas entrelinhas dos versos que ora lhe
surgem – isso quem o afirma é o próprio Kubrusly –, e até mesmo rimas que
ressoam, talvez, de criações de outros autores: a metáfora das transformações
químicas é deveras interessante, para denotar essa forma de amalgamar versos –
próprios ou de terceiros –, ideias, sentidos e palavras em “novas composições” –
ao modo dos elementos da natureza que, ao se misturarem, dão origem a
substâncias com características próprias.
J.A.R. – H.C.
Ricardo Kubrusly
(n. 1951)
Americana
Poesia, que pena:
Nem mais penso em
versos.
Perdi a essência do
poema
Tomei-me números
somente
Em equações
dispersos.
E nem, por mais que
tente
Descubro em mim, da
poesia
Uma molécula
gesticulante
Ou mesmo um átomo da
métrica
Que eu já não tenha
conhecido antes
Ou lido em minhas
próprias entrelinhas.
Repetidamente
intolerantes...
Rimas que eu sei não
serem minhas.
O conceito de solução
(Leon Zernitsky:
ilustrador russo)
Referência:
KUBRUSLY, Ricardo. Americana. In:
__________. Acordanoite. Rio de
Janeiro, RJ: Editora Seis, 1993. p. 72.
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