Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 25 de junho de 2019

Ricardo Kubrusly - Americana

O poeta imagina encontrar-se carente de inspiração, a ponto de nem mais pensar em versos: sendo um autor vindo da área de ciências exatas, tudo se lhe apresenta como números, equações, moléculas, “átomos da métrica”, que já nem se mostram primigênios, porque tantas vezes percorridos no exercício da vida prática.

Há suficientes autoparódias nas entrelinhas dos versos que ora lhe surgem – isso quem o afirma é o próprio Kubrusly –, e até mesmo rimas que ressoam, talvez, de criações de outros autores: a metáfora das transformações químicas é deveras interessante, para denotar essa forma de amalgamar versos – próprios ou de terceiros –, ideias, sentidos e palavras em “novas composições” – ao modo dos elementos da natureza que, ao se misturarem, dão origem a substâncias com características próprias.

J.A.R. – H.C.

Ricardo Kubrusly
(n. 1951)

Americana

Poesia, que pena:
Nem mais penso em versos.

Perdi a essência do poema
Tomei-me números somente
Em equações dispersos.
E nem, por mais que tente
Descubro em mim, da poesia
Uma molécula gesticulante
Ou mesmo um átomo da métrica
Que eu já não tenha conhecido antes
Ou lido em minhas próprias entrelinhas.

Repetidamente intolerantes...
Rimas que eu sei não serem minhas.

O conceito de solução
(Leon Zernitsky: ilustrador russo)

Referência:

KUBRUSLY, Ricardo. Americana. In: __________. Acordanoite. Rio de Janeiro, RJ: Editora Seis, 1993. p. 72.

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