Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de junho de 2019

Kate Light - Chego à conclusão de que um soneto jamais alterou

Empregando o próprio formato do soneto, a poetisa põe-se a conjecturar sobre a ineficácia do soneto – e, por extensão, de toda a lírica –, para alterar um estado de coisas na vida prática. Quando muito, segundo ela, poderá mover, emocionalmente, um pobre coitado que permaneceu sob a sua influência, exposto ao luar – hipótese que, a princípio, não teria sido levantada por quem o redigiu.

De fato, um poema sempre se destinaria a mover alguém, a incitar o leitor à ação? Talvez não: um poema serve, no mais das vezes, para se apreciar a beleza das palavras, a visão peculiar do autor sobre determinado tema, a particularidade de pensamentos, sentimentos, emoções. É bem verdade que há belos poemas que nos comovem ou incitam: mas, nesse caso, constituem exceção à regra, segundo a autora.

J.A.R. – H.C.

Kate Light
(n. 1960)

I Conclude a Sonnet Never Changed

I conclude a sonnet never changed
a mind, or moved a heart, or opened a locked
door. If such could be so readily arranged,
poems could not possibly stay stocked.
Pockets would be filled and pillows swarmed.
Oh no, a sonnet never swung a gate,
cracked a safe, or left a bomb disarmed.
It never swam a moat, or pried a crate.
Or rather, whom it moved, at any rate,
was accidental; a side effect, some poor
someone tugged at when its influence, its weight,
its pool of moonlight revealed a midnight shore.
Yes, then, it may have changed a life, or more;
but not the one it was intended for.

Saída da Lua em Agosto
(Thomas Van Stein: pintor norte-americano)

Chego à conclusão de que um soneto jamais alterou

Chego à conclusão de que um soneto jamais alterou
uma mente, moveu um coração, ou abriu uma porta
fechada. Se tais coisas acontecessem com frequência,
não haveria razões para tantos poemas acumulados.
Os bolsos estariam cheios e os travesseiros repletos.
Oh não, um soneto jamais escancarou um portão,
Rompeu uma caixa-forte ou desarmou uma bomba.
Nunca transpôs um fosso ou rompeu um engradado.
Ou melhor, a quem ele emocionou, seja como for,
foi por acidente; um efeito colateral que arrastou
um pobre alguém quando sua influência, seu peso,
sua poça de luar revelou uma praia à meia-noite.
Sim, pois, pode haver mudado uma vida ou mais;
Mas não terá sido a que foi, a princípio, destinado.

Referência:

LIGHT, Kate. I conclude a sonnet never changed. In: LINDNER, April (Ed.). Líneas conectadas: nueva poesía de los Estados Unidos. Edición bilingüe: Inglés - Español. 1st. ed. Louisville, KY: Sarabande Books, 2006. p. 264.

2 comentários:

  1. um dos mais belos poemas que já li...

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  2. Ricardo,
    De fato, é um poema muito interessante, quer pelo tema autorreferencial à própria poesia – basta ver as asserções metapoéticas nele contidas –, quer pelo sentido atribuído pela poetisa a toda criação poética, dominantemente não utilitário.
    Abs.
    João A. Rodrigues

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