Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Mosché Haim Luzzatto - O homem é como a flor...

O rabi e pensador judeu centra o seu poema na transitoriedade da vida, como se sobre tudo o que existe a morte lançasse o seu véu ou difundisse a sua soberania. Assim, vive-se sem alegria, porque, sobre a terra, nada é mais impermanente do que a própria permanência. Ou como diria Heráclito, nada é permanente exceto a mudança!

Com o espírito talvez povoado por um padrão de pensamento negativo, ou vendo tons de cinza eternamente a pairar sobre o futuro da humanidade, não nos causa espanto o fato de que o rabi-poeta sequer tenha chegado aos 40, como que a ratificar o provérbio de Salomão (17:22): “O coração alegre é bom remédio para o corpo, mas a tristeza na alma acaba com a saúde do homem”.

J.A.R. – H.C.

Mosché Haim Luzzatto
(1707-1746)

O homem é como a flor...

O homem é como a flor do campo, como o arbusto.
Por que vieste à luz? E para quê?
Se tenro e alegre de manhã floresces
eis que de tarde
cortam-te a flor e já não te conhecem.
A morte pasce em ti, como um rebanho.
É possível que acedas à alegria,
se tens sob teus pés escondida a armadilha?
Por que, homem, gozar o mel com a boca
se a tua língua deve estar disposta
a degustar o amargo pó da morte?
Ó morte! Quanto tempo ainda terás, soberba,
para zombar do nosso sofrimento?
Sobre a criança e sobre o velho desces
fulminante tua lâmina de espada
para ceifar, qual trigo, teus rebanhos.

Flor no Campo
(Dorothy Siclare: pintora norte-americana)

Referência:

LUZZATTO, Mosché Haim. O homem é como a flor... Tradução de Renata Pallotini. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 352. (Coleção “Judaica”; v. 12)

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