O rabi e pensador judeu centra o seu poema na transitoriedade da vida,
como se sobre tudo o que existe a morte lançasse o seu véu ou difundisse a sua
soberania. Assim, vive-se sem alegria, porque, sobre a terra, nada é mais
impermanente do que a própria permanência. Ou como diria Heráclito, nada é
permanente exceto a mudança!
Com o espírito talvez povoado por um padrão de pensamento negativo, ou
vendo tons de cinza eternamente a pairar sobre o futuro da humanidade, não nos
causa espanto o fato de que o rabi-poeta sequer tenha chegado aos 40, como que a
ratificar o provérbio de Salomão (17:22): “O coração alegre é bom remédio para
o corpo, mas a tristeza na alma acaba com a saúde do homem”.
J.A.R. – H.C.
Mosché Haim Luzzatto
(1707-1746)
O homem é como a flor...
O homem é como a flor
do campo, como o arbusto.
Por que vieste à luz?
E para quê?
Se tenro e alegre de
manhã floresces
eis que de tarde
cortam-te a flor e já
não te conhecem.
A morte pasce em ti,
como um rebanho.
É possível que acedas
à alegria,
se tens sob teus pés
escondida a armadilha?
Por que, homem, gozar
o mel com a boca
se a tua língua deve
estar disposta
a degustar o amargo
pó da morte?
Ó morte! Quanto tempo
ainda terás, soberba,
para zombar do nosso
sofrimento?
Sobre a criança e
sobre o velho desces
fulminante tua lâmina
de espada
para ceifar, qual
trigo, teus rebanhos.
Flor no Campo
(Dorothy Siclare:
pintora norte-americana)
Referência:
LUZZATTO, Mosché Haim. O homem é como a
flor... Tradução de Renata Pallotini. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira
Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de
poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960.
p. 352. (Coleção “Judaica”; v. 12)
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