Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 8 de junho de 2019

Wisława Szymborska - Visto do alto

Sob o ponto de vista de Szymborska, são distintas as mortes dos animais e dos seres humanos, pois, no mais das vezes, o passamento dos humanos se dá com “forçada precedência”, ou talvez melhor, por tornarmos a morte algo difícil de ser trespassado, por conhecermos previamente de suas razões naturais e perturbarmo-nos ante a plena consciência do inarredável fluxo vital.

Mas os animais, não: falecem sem impor “horror à cena”. Vão-se “sem transmitir tristeza”. De fato, a tristeza fica por conta dos humanos ao vê-los partir: há muitas pessoas que ficam mais consternadas quando morrem seus bichinhos de estimação – sobretudo cães e gatos –, do que alguns de seus parentes mais próximos...

A poesia de Szymborska é fortemente influenciada pela ciência moderna. Ela assume que é tênue a fronteira entre nós e o resto da natureza. Por outro lado, ela reconhece que nossos hábitos empedernidos nos inclinam a olhar os animais e os insetos com um sentimento de nosso especial privilégio. Daí a ironia em seu poema. (MILOSZ, 1998, p. 41)

J.A.R. – H.C.

Wisława Szymborska
(1923-2012)

Widziane z góry

Na polnej drodze leży martwy żuk.
Trzy pary nóżek złożył na brzuchu starannie.
Zamiast bezładu śmierci schludność i porządek.
Groza tego widoku jest umiarkowana, zakres
ściśle lokalny, od perzu do mięty.
Smutek się nie udziela.
Niebo jest błękitne.

Dla naszego spokoju śmiercią jakby płytszą
nie umierają ale zdychają zwierzęta
tracąc, chcemy w to wierzyć, mniej czucia i świata,
schodząc, jak nam się zdaje, z mniej tragicznej sceny.
Ich potulne duszyczki nie straszą nas nocą,
szanują dystans,
wiedzą co to mores.

I oto ten na drodze martwy żuk
w nieopłakanym stanie ku słońcu polśniewa.
Wystarczy o nim tyle pomyśleć co spojrzeć:
wygląda, że nie stało mu się nic ważnego.
Ważne związane jest podobno z nami.
Na życie tylko nasze, naszą tylko śmierć,
śmierć, która wymuszonym cieszy się pierwszeństwem.

Visão do Alto
(Ajit Deswandikar: pintor indiano)

Visto do alto

Um besouro morto num caminho campestre.
Três pares de perninhas dobradas sobre o ventre.
Ao invés da desordem da morte – ordem e limpeza.
O horror da cena é moderado,
o âmbito estritamente local, da tiririca à menta.
A tristeza não se transmite.
O céu está azul.

Para nosso sossego, os animais não falecem,
morrem de uma morte por assim dizer mais rasa,
perdendo – queremos crer – menos sentimento e mundo,
partindo – assim nos parece – de uma cena menos trágica.
Suas alminhas dóceis não nos assombram à noite,
mantêm distância,
Conhecem as boas maneiras.

E assim esse besouro morto no caminho,
não pranteado, brilha ao sol.
Basta pensar nele a duração de um olhar:
parece que nada importante lhe aconteceu.
O importante supostamente tem a ver conosco.
Com a nossa vida somente, só com nossa morte,
uma morte que conta com forçada precedência.

Referências:

SZYMBORSKA, Wisława. Widziane z góry / Visto do alto. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Um amor feliz. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. Em polonês: p. 156; em português: p. 157.

MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998.

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