Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 18 de junho de 2019

John Ashbery - Algumas Árvores

Apesar de o poema nos trazer à mente as imagens de árvores, numa manhã de inverno, como numa tela capaz, ademais, de apresentar sonoridades – seria possível?! –, de fato, Ashbery avoca-as como uma metáfora para os relacionamentos humanos: enceta-se o discurso sem que haja, presumivelmente, espaço para performances gestuais.

Veja-se que a fixidez não significa a permanência em um lugar específico, pois o poeta alude a uma relação que pode dispor cada qual num lugar do mundo suficientemente distante do lugar do outro, em dado momento, ainda que estejam concordes (ou discordes, quem sabe?!) com o quer que seja.

Nesse sentido, o elemento do acaso, a envolver os amantes, define-se pelas estruturas pré-ordenadas do discurso, tão inculcadas na vida que a sua mera presença é suficiente para garantir o significado, com os acentos do mundo contingente a preencher tudo o mais que se pode apresentar como reticências.

J.A.R. – H.C.

John Ashbery
(1927-2017)

Some Trees

These are amazing: each
Joining a neighbour, as though speech
Were a still performance.
Arranging by chance

To meet as far this morning
From the world as agreeing
With it, you and I
Are suddenly what the trees try

To tell us we are:
That their merely being there
Means something; that soon
We may touch, love, explain.

And glad not to have invented
Such comeliness, we are surrounded:
A silence already filled with noises,
A canvas on which emerges

A chorus of smiles, a winter morning.
Placed in a puzzling light, and moving,
Our days put on such reticence
These accents seem their own defence.

Árvores no Parque
(Leonid Afremov: pintor israelense)

Algumas Árvores

Estas são magníficas: cada qual
Une-se a um vizinho, como se a fala
Fosse uma representação fixa.
Dispondo-nos ao acaso

Para encontrar-nos esta manhã, tão distantes
Do mundo quanto em concordância
Com ele, tu e eu
Somos, de repente, o que as árvores tentam

Nos dizer que somos:
Que simplesmente estar ali
Signifique algo; que logo
Possamos tocar, amar, explicar.

E contentes por não haver inventado
Semelhante beleza, deixamo-nos rodear:
Um silêncio já pleno de ruídos,
Uma tela sobre a qual surge

Um coro de sorrisos, uma manhã invernal.
Sob uma luz desconcertante e comovedora,
Nossos dias denotam reticência tanta
Que tais inflexões parecem sua própria defesa.

Referência:

ASHBERY, John. Some trees. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 253.

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