Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 23 de junho de 2019

Antonio Cisneros - Poema sobre Jonas e os desalienados

Emprega-se neste poema a metáfora do mito de Jonas, extraído às páginas da Bíblia, com o objetivo de se evidenciar que, para expor-se a uma realidade mais ampla, é necessário que abramos mão de alguma coisa de que dispomos no presente, para equipar-nos dos meios capazes de proporcionar o avanço necessário: uma espécie de “destruição criadora”.

O poeta sente-se como se estivesse no ventre de uma baleia, “com minha mulher e Diego e todos os meus avós”, cerceado de algum modo em relação à realidade que o circunda: propõe-se, então, criar um periscópio a partir de uma costela, do fígado ou de barbatanas do animal, mesmo que à custa de sua amizade...

J.A.R. – H.C.

Antonio Cisneros
(1942-2012)

Poema sobre Jonás y los desalienados
              
Si los hombres viven en la barriga de una ballena
sólo pueden sentir frío y hablar
de las manadas periódicas de peces y de murallas
oscuras como una boca abierta y de manadas
periódicas de peces y de murallas
oscuras como una boca abierta y sentir mucho frío.
Pero si los hombres no quieren hablar siempre de lo mismo
tratarán de construir un periscopio para saber
cómo se desordenan las islas y el mar
y las demás ballenas – si es que existe todo eso.
Y el aparato ha de fabricarse con las cosas
que tenemos a la mano y entonces se producen
las molestias, por ejemplo
si a nuestra casa le arrancamos una costilla
perderemos para siempre su amistad
y si el hígado o las barbas es capaz de matarnos.
Y estoy por creer que vivo en la barriga de alguna ballena
con mi mujer y Diego y todos mis abuelos.

Jonas e a Baleia
(Pieter Lastman: pintor holandês)

Poema sobre Jonas e os desalienados

Se os homens vivem na barriga de uma baleia
só podem sentir frio e falar
dos cardumes periódicos de peixes e de muralhas
escuras como uma boca aberta e de cardumes
periódicos de peixes e de muralhas
escuras como uma boca aberta e sentir muito frio.
Mas se os homens não querem falar sempre da mesma coisa
tratarão de construir um periscópio para saber
como se desordenam as ilhas e o mar
e as demais baleias – se é que existe tudo isso.
E o aparelho há de se fabricar com as coisas
que temos à mão e então surgem
desagrados, por exemplo
se de nossa casa arrancamos uma costela
perderemos para sempre sua amizade
e se o fígado ou as barbatanas, é capaz de matar-nos.
Estou achando que vivo na barriga de alguma baleia
com minha mulher e Diego e todos os meus avós.

Referências:

Em Espanhol

CISNEROS, Antonio. Poema sobre Jonás y los desalienados. In: __________. Postales para Lima: antología poética. Prólogo de Alonso Rabí do Carmo. Selección de Jorge Boccanera. Buenos Aires, AR: Ediciones Colihue, 1999. p. 56. (Colección ‘Musarisca’)

Em Português

CISNEROS, Antonio. Poema sobre Jonas e os desalienados. Tradução de Ferreira Gullar. In: GULLAR, Ferreira (Org.). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro, RJ: Edições de Janeiro, 2014. p. 256.

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