As imagens que Simpson evoca para as
cidades americanas, depois da meia-noite, para além de desconcertantes – porque
são desafios às mentes mais familiarizadas a descrições dentro de parâmetros convencionais –, pouco tendem a parecer com as de grandes metrópoles – que costumam
permanecer ativas, com suas boates, bares, casas de shows etc., noite adentro.
Um corpo adormecido costuma brilhar?
Suicídios e abortos acontecem preferencialmente à noite, lá pela alta madrugada?
Tais são algumas das dúvidas que o poeta nos expõe, ele que, ao conceber o
poema, apenas estava elucubrando sobre o que se passava naquele exato instante
na cidade, enquanto enchia de combustível o tanque de seu automóvel, numa
oficina...
A América, mesmo para
um estadunidense, pode apresentar-se de uma maneira bastante estranha, e as
ruas das grandes cidades durante a noite parecem conter a essência da
alienação, fielmente transmitida pelo poema de Louis Simpson (MILOSZ, 1998, p.
117).
J.A.R. – H.C.
Louis Simpson
(1923-2012)
After Midnight
The dark streets are
deserted,
With only a drugstore
glowing
Softly, like a
sleeping body;
With one white, naked
bulb
In the back, that
shines
On suicides and
abortions.
Who lives in these
dark houses?
I am suddenly aware
I might live here
myself.
The garage man
returns
And puts the change
in my hand,
Counting the singles
carefully.
Caminhando depois da meia-noite: colagem
(Lorette C. Luzajic:
artista canadense)
Depois da Meia-noite
As ruas escuras estão
desertas,
Com apenas uma
drogaria a esplender
Suavemente, como um
corpo adormecido.
Com um bulbo branco e
desprotegido
Nas costas, que
cintila
Sobre suicídios e
abortos.
Quem vive nessas
casas escuras?
De repente me dou
conta
De que eu mesmo
poderia viver aqui.
O homem da oficina
regressa
E põe o troco em
minha mão,
Contando as unidades
cuidadosamente.
Referência:
SIMPSON, Louis. After midnight. In:
MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of
luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York,
NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 117.
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