Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Louis Simpson - Depois da Meia-noite

As imagens que Simpson evoca para as cidades americanas, depois da meia-noite, para além de desconcertantes – porque são desafios às mentes mais familiarizadas a descrições dentro de parâmetros convencionais –, pouco tendem a parecer com as de grandes metrópoles – que costumam permanecer ativas, com suas boates, bares, casas de shows etc., noite adentro.

Um corpo adormecido costuma brilhar? Suicídios e abortos acontecem preferencialmente à noite, lá pela alta madrugada? Tais são algumas das dúvidas que o poeta nos expõe, ele que, ao conceber o poema, apenas estava elucubrando sobre o que se passava naquele exato instante na cidade, enquanto enchia de combustível o tanque de seu automóvel, numa oficina...

A América, mesmo para um estadunidense, pode apresentar-se de uma maneira bastante estranha, e as ruas das grandes cidades durante a noite parecem conter a essência da alienação, fielmente transmitida pelo poema de Louis Simpson (MILOSZ, 1998, p. 117).

J.A.R. – H.C.

Louis Simpson
(1923-2012)

After Midnight

The dark streets are deserted,
With only a drugstore glowing
Softly, like a sleeping body;

With one white, naked bulb
In the back, that shines
On suicides and abortions.

Who lives in these dark houses?
I am suddenly aware
I might live here myself.

The garage man returns
And puts the change in my hand,
Counting the singles carefully.

Caminhando depois da meia-noite: colagem
(Lorette C. Luzajic: artista canadense)

Depois da Meia-noite

As ruas escuras estão desertas,
Com apenas uma drogaria a esplender
Suavemente, como um corpo adormecido.

Com um bulbo branco e desprotegido
Nas costas, que cintila
Sobre suicídios e abortos.

Quem vive nessas casas escuras?
De repente me dou conta
De que eu mesmo poderia viver aqui.

O homem da oficina regressa
E põe o troco em minha mão,
Contando as unidades cuidadosamente.

Referência:

SIMPSON, Louis. After midnight. In: MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 117.

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