Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Rumi - Desabitua-te

Se ficarmos presos a um estado físico e mental, e não buscarmos evoluir a outras formas de vida, estagnamos: é da prática do desapego que nos fala Rumi, pois os estágios por que passamos na vida, de embrião a adulto, pressupõem, do mesmo modo, novas posturas frente ao mundo e suas belezas. Do contrário, limitaremos nossas experiências, deixando de conhecer outros idiomas, outros povos, outras paragens.

Conhecendo o mundo inteiro, pode-se concluir melhor sobre a sua própria essência: empreguemos uma metáfora. Se ficamos em frente a um elefante e contemplamos apenas as suas ostensivas presas brancas, nosso mundo se limitará às visões de Marlow e Kurtz em “O coração das Trevas”, sempre em busca de mais dinheiro com fulcro naquilo que pode converter-se em objetos de marfim...

Sabemos tanto sobre o princípio e o fim, sobre a infinita complexidade do mundo, quanto sobre um embrião encerrado no ventre da mãe. Esta parábola de um poeta místico persa, a fazer uso dessa metáfora, exige a nossa abertura para preservar toda a dimensão da existência que escapa às nossas palavras. (MILOSZ, 1998, p. 271)

J.A.R. – H.C.

Jalal ud-Din Rumi
(1207-1273)

Wean Yourself

Little by little, wean yourself.

This is the gist of what I have to say.

From an embryo, whose nourishment comes in the blood,
move to an infant drinking milk,
to a child on solid food,
to a searcher after wisdom,
to a hunter of more invisible game.

Think how it is to have a conversation with an embryo.
You might say, “The world outside is vast and intricate.
There are wheatfields and mountain passes,
and orchards in bloom.

At night there are millions of galaxies, and in sunlight
the beauty of friends dancing at a wedding”.

You ask the embryo why he, or she, stays cooped up
in the dark with eyes closed.

Listen to the answer.

There is no “other world”.
I only know what I’ve experienced.
You must be hallucinating.

O afeto maternal
(Adolphe Jourdan: pintor francês)

Desabitua-te

Pouco a pouco, desabitua-te.

Essa é a essência do que tenho a dizer.

Um embrião, cujo alimento vem no sangue,
passa a um bebê sugando leite,
a um menino comendo alimentos sólidos,
a um investigador ao encalço da sabedoria,
a um caçador atrás da presa mais invisível.

Imagina como seria ter uma conversa com um embrião.
Poderias dizer-lhe: “O mundo exterior é vasto e intricado.
Há campos de trigo, cadeias de montanhas e hortos em flor.

De noite há milhões de galáxias, e sob a luz do sol
a beleza dos amigos dançando em um casamento”.

Pergunta ao embrião por que ele, ou ela, permanece encerrado
no escuro com os olhos fechados.

Escuta a sua resposta:

Não existe “outro mundo”.
Só conheço o que até aqui experimentei.
Deves ter alucinações.

Referências:

RUMI, Jalal ud-Din. Wean yourself. In: __________. The essential Rumi: controliing the desire-body – how did you kill your rooster, Husam?. Translations by Coleman Barks with John Moyne, A. J. Arberry and Reynold Nicholson. Edison, NJ: Castle Books, 1997. p. 70-71.

MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998.

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