Se ficarmos presos a um estado físico e mental, e não buscarmos evoluir
a outras formas de vida, estagnamos: é da prática do desapego que nos fala
Rumi, pois os estágios por que passamos na vida, de embrião a adulto,
pressupõem, do mesmo modo, novas posturas frente ao mundo e suas belezas. Do contrário, limitaremos nossas experiências, deixando de conhecer outros
idiomas, outros povos, outras paragens.
Conhecendo o mundo inteiro, pode-se concluir melhor sobre a sua própria
essência: empreguemos uma metáfora. Se ficamos em frente a um elefante e
contemplamos apenas as suas ostensivas presas brancas, nosso mundo se limitará
às visões de Marlow e Kurtz em “O coração das Trevas”, sempre em busca de mais
dinheiro com fulcro naquilo que pode converter-se em objetos de marfim...
Sabemos tanto sobre o princípio e o
fim, sobre a infinita complexidade do mundo, quanto sobre um embrião encerrado
no ventre da mãe. Esta parábola de um poeta místico persa, a fazer uso dessa
metáfora, exige a nossa abertura para preservar toda a dimensão da existência
que escapa às nossas palavras. (MILOSZ, 1998, p. 271)
J.A.R. – H.C.
Jalal ud-Din Rumi
(1207-1273)
Wean Yourself
Little by little,
wean yourself.
This is the gist of
what I have to say.
From an embryo, whose
nourishment comes in the blood,
move to an infant
drinking milk,
to a child on solid
food,
to a searcher after
wisdom,
to a hunter of more
invisible game.
Think how it is to
have a conversation with an embryo.
You might say, “The
world outside is vast and intricate.
There are wheatfields
and mountain passes,
and orchards in
bloom.
At night there are
millions of galaxies, and in sunlight
the beauty of friends
dancing at a wedding”.
You ask the embryo
why he, or she, stays cooped up
in the dark with eyes
closed.
Listen to the answer.
There is no “other world”.
I only know what I’ve experienced.
You must be hallucinating.
O afeto maternal
(Adolphe Jourdan: pintor
francês)
Desabitua-te
Pouco a pouco,
desabitua-te.
Essa é a essência do
que tenho a dizer.
Um embrião, cujo
alimento vem no sangue,
passa a um bebê
sugando leite,
a um menino comendo
alimentos sólidos,
a um investigador ao
encalço da sabedoria,
a um caçador atrás da
presa mais invisível.
Imagina como seria
ter uma conversa com um embrião.
Poderias dizer-lhe: “O
mundo exterior é vasto e intricado.
Há campos de trigo, cadeias
de montanhas e hortos em flor.
De noite há milhões
de galáxias, e sob a luz do sol
a beleza dos amigos
dançando em um casamento”.
Pergunta ao embrião
por que ele, ou ela, permanece encerrado
no escuro com os
olhos fechados.
Escuta a sua
resposta:
Não existe “outro mundo”.
Só conheço o que até aqui experimentei.
Deves ter alucinações.
Referências:
RUMI, Jalal ud-Din. Wean yourself. In:
__________. The essential Rumi: controliing
the desire-body – how did you kill your rooster, Husam?. Translations by
Coleman Barks with John Moyne, A. J. Arberry and Reynold Nicholson. Edison, NJ:
Castle Books, 1997. p. 70-71.
MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international
anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt,
1998.
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