Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Cornelius Eady - Os Supremos

Eady nos fala de uma geração que nasceu para ser “cinzenta”, ou seja, na escala da mediania, num tom que não se revela nitidamente, tampouco se estabelece em primeira ordem: são os que se adaptaram ao conformismo imposto pelo padrão de ensino contemporâneo, devotado a transformar os guris em autômatos mais facilmente tragáveis pela ordem capitalista.

Sem qualquer espírito crítico, sem formação com algum grau de profundidade, sem conhecimentos que as levem a ser independentes de fato, as crianças limitam-se a ocupar, mais à frente, postos na sociedade muito aquém de suas potencialidades, tornando-se frustradas.

Tal como no caso do poema de Howard Nemerov, “A David, Sobre a Sua Educação”, aqui postado, o poema de Eady dedica-se a criticar a forma de ensino que condiciona nossas crianças à estupidez e à negatividade, em especial, naqueles estratos da sociedade mais desprivilegiados.

J.A.R. – H.C.

Cornelius Eady
(n. 1954)

The Supremes

We were born to be gray. We went to school,
Sat in rows, ate white bread,
Looked at the floor a lot. In the back
Of our small heads

A long scream. We did what we could,
And all we could do was
Turn on each other. How the fat kids suffered!
Not even being jolly could save them.

And then there were the anal retentive, (*)
The terrified brown-noses, the desperately
Athletic or popular. This, of course,
Was training. At home

Our parents shook their heads and waited.
We learned of the industrial revolution,
The sectioning of the clock into pie slices.
We drank cokes and twiddled our thumbs. In the
Back of our minds

A long scream. We snapped butts in the showers,
Froze out shy girls on the dance floor,
Pinpointed flaws like radar.
Slowly we understood: this was to be the world.

We were born insurance salesmen and secretaries,
Housewives and short order cooks,
Stockroom boys and repairmen,
And it wouldn’t be a bad life, they promised,
In a tone of voice that would force some of us
To reach in self-defense for wigs,
Lipstick,

Sequins.

Diversão na Praia e Resgate
(Pablo Picasso: pintor espanhol)

Os Supremos

Nascemos para ser cinzentos. Fomos à escola,
Sentamo-nos em filas, comemos pão branco,
Olhamos muito para o chão. Na parte de trás
De nossas pequenas cabeças

Um longo berro. Fizemos o que podíamos,
E tudo o que podíamos fazer era
Enfrentar-nos mutuamente. Como sofreram as
crianças gordas!
Nem mesmo sua alegria poderia salvá-las.

E então havia os obsessivos,
Os aterrorizados bajuladores, os desesperadamente
Atléticos ou populares. Isso, claro está,
Era o treinamento. Em casa,

Nossos pais meneavam a cabeça e esperavam.
Da revolução industrial aprendemos
A seccionar o relógio em quartos.
Bebemos cocas e dissipamos o tempo. Na parte
De trás de nossas mentes

Um longo berro. Estalamos nádegas sob as duchas,
Demos gelo em garotas tímidas em pistas de dança,
Como um radar, identificamos imperfeições.
Lentamente compreendemos: assim seria o mundo.

Nascemos como vendedores de seguros e secretárias,
Donas de casa e cozinheiros de pratos rápidos,
Almoxarifes e reparadores,
E não seria uma vida ruim, prometeram-nos,
Em um tom de voz que obrigaria, a alguns de nós,
A batalhar, em defesa própria, por perucas,
Batom,

Lantejoulas.

Nota:

(*). Emprega-se o termo “anal retentive”, derivado da psicanálise freudiana, para descrever uma pessoa que presta tanta atenção aos detalhes que se torna obsessiva, causando aborrecimento aos outros.

Referência:

EADY, Cornelius. The supremes. In: ANDERSON, Maggie; HASSLER, David (Eds.). Learning by heart: contemporary american poetry about school. Foreword by Robert Coles. Iowa City, IA: University of Iowa Press, 1999. p. 149.

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