Eady nos fala de uma geração que nasceu para ser “cinzenta”, ou seja, na
escala da mediania, num tom que não se revela nitidamente, tampouco se
estabelece em primeira ordem: são os que se adaptaram ao conformismo imposto
pelo padrão de ensino contemporâneo, devotado a transformar os guris em
autômatos mais facilmente tragáveis pela ordem capitalista.
Sem qualquer espírito crítico, sem formação com algum grau de profundidade,
sem conhecimentos que as levem a ser independentes de fato, as crianças limitam-se a
ocupar, mais à frente, postos na sociedade muito aquém de suas
potencialidades, tornando-se frustradas.
Tal como no caso do poema de Howard Nemerov, “A David, Sobre a Sua
Educação”, aqui postado, o poema
de Eady dedica-se a criticar a forma de ensino que condiciona nossas crianças à
estupidez e à negatividade, em especial, naqueles estratos da sociedade mais
desprivilegiados.
J.A.R. – H.C.
Cornelius Eady
(n. 1954)
The Supremes
We were born to be
gray. We went to school,
Sat in rows, ate
white bread,
Looked at the floor a
lot. In the back
Of our small heads
A long scream. We did
what we could,
And all we could do
was
Turn on each other.
How the fat kids suffered!
Not even being jolly
could save them.
And then there were
the anal retentive, (*)
The terrified brown-noses,
the desperately
Athletic or popular.
This, of course,
Was training. At home
Our parents shook
their heads and waited.
We learned of the
industrial revolution,
The sectioning of the
clock into pie slices.
We drank cokes and
twiddled our thumbs. In the
Back of our minds
A long scream. We
snapped butts in the showers,
Froze out shy girls
on the dance floor,
Pinpointed flaws like
radar.
Slowly we understood:
this was to be the world.
We were born
insurance salesmen and secretaries,
Housewives and short
order cooks,
Stockroom boys and
repairmen,
And it wouldn’t be a
bad life, they promised,
In a tone of voice
that would force some of us
To reach in
self-defense for wigs,
Lipstick,
Sequins.
Diversão na Praia e Resgate
(Pablo Picasso:
pintor espanhol)
Os Supremos
Nascemos para ser cinzentos.
Fomos à escola,
Sentamo-nos em filas,
comemos pão branco,
Olhamos muito para o
chão. Na parte de trás
De nossas pequenas
cabeças
Um longo berro.
Fizemos o que podíamos,
E tudo o que podíamos
fazer era
Enfrentar-nos
mutuamente. Como sofreram as
crianças gordas!
Nem mesmo sua alegria
poderia salvá-las.
E então havia os obsessivos,
Os aterrorizados
bajuladores, os desesperadamente
Atléticos ou
populares. Isso, claro está,
Era o treinamento. Em
casa,
Nossos pais meneavam a cabeça e esperavam.
Da revolução
industrial aprendemos
A seccionar o relógio
em quartos.
Bebemos cocas e
dissipamos o tempo. Na parte
De trás de nossas
mentes
Um longo berro. Estalamos
nádegas sob as duchas,
Demos gelo em garotas
tímidas em pistas de dança,
Como um radar, identificamos
imperfeições.
Lentamente
compreendemos: assim seria o mundo.
Nascemos como
vendedores de seguros e secretárias,
Donas de casa e
cozinheiros de pratos rápidos,
Almoxarifes e
reparadores,
E não seria uma vida
ruim, prometeram-nos,
Em um tom de voz que
obrigaria, a alguns de nós,
A batalhar, em defesa
própria, por perucas,
Batom,
Lantejoulas.
Nota:
(*). Emprega-se o termo “anal retentive”,
derivado da psicanálise freudiana, para descrever uma pessoa que presta tanta
atenção aos detalhes que se torna obsessiva, causando aborrecimento aos outros.
Referência:
EADY, Cornelius. The supremes. In: ANDERSON,
Maggie; HASSLER, David (Eds.). Learning
by heart: contemporary american poetry about school. Foreword by Robert
Coles. Iowa City, IA: University of Iowa Press, 1999. p. 149.
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