Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Anne Sexton - Bem-vinda Manhã

Uma ode à beleza do cotidiano, num despertar dos sentidos para a vida própria que todas as coisas possuem, mesmo as que consideramos inanimadas, como uma escova de cabelo, uma chaleira, uma cadeira ou uma chávena: tal é o enredo do poema de Sexton, que, com tanta alegria a cada manhã, só pensa em compartilhá-la com os seus leitores.

É a apologia do universo extático, a iniciar-se com a alvorada numa forma ritual: a vida tem o seu brilho quando por ela passamos com o propósito de melhorar o mundo e, ao mesmo tempo, desfrutá-lo. Não seria a felicidade uma espécie de crédito que resulta do desígnio de se atribuir significado às nossas mais comezinhas experiências?!...

J.A.R. – H.C.

Anne Sexton
(1928-1974)

Welcome Morning

There is joy
in all:
in the hair I brush each morning,
in the Cannon towel, newly washed,
that I rub my body with each morning,
in the chapel of eggs I cook
each morning,
in the outcry from the kettle
that heats my coffee
each morning,
in the spoon and the chair
that cry “hello there, Anne”
each morning,
in the godhead of the table
that I set my silver, plate, cup upon
each morning.

All this is God,
right there in my pea-green house
each morning
and I mean,
though often forget,
to give thanks,
to faint down by the kitchen table
in a prayer of rejoicing
as the holy birds at the kitchen window
peck into their marriage of seeds.

So while I think of it,
let me paint a thank-you on my palm
for this God, this laughter of the morning,
lest it go unspoken.

The Joy that isn’t shared, I’ve heard,
dies young.

Veneza pela manhã
(Evgenia Klimenko: pintora ucraniana)

Bem-Vinda Manhã

Há alegria
em tudo:
no cabelo que escovo todas as manhãs,
na toalha de banho, recém-lavada,
com que me esfrego o corpo todas as manhãs,
na pilha de ovos que cozinho
todas as manhãs,
no sibilo da chaleira
que aquece meu café
todas as manhãs,
na colher e na cadeira
como que a exclamar “olá, Anne”
todas as manhãs,
no nume da mesa
sobre a qual eu ponho o talher, o prato e a chávena
todas as manhãs.

Tudo isso é Deus,
precisamente ali em minha casa verde-ervilha
todas as manhãs
e tenciono,
ainda que amiúde me esqueça,
dar graças,
reclinar-me dignamente junto à mesa da cozinha
em uma oração de regozijo
quando as aves sagradas na janela da cozinha
bicam em sua boda de sementes.

Então, enquanto assim medito, deixem-me retratar
um agradecimento com as palmas de minha mão
a esse Deus, a esse riso da manhã,
para que isso não fique meramente implícito.

A Alegria não compartilhada, ouvi dizer,
morre jovem.

Referência:

SEXTON, Anne. Welcome morning. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 5-6.

2 comentários:

  1. Bom dia,

    Descobri seu blog por acaso e estou maravilhada! Você tem um gosto muito requintado e fiquei muito satisfeita com as seleções que você divulga aqui. Muito obrigada!!

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    Respostas
    1. Prezada Morrigwan,
      Grato pelo encômio. Mais satisfeito ainda em razão de que gostou da seleção de poemas postados. A agradecer, de fato, sou eu, pelo acesso às postagens.
      Um abraço,
      João A. Rodrigues

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