Aqui temos um poema que fez-me lembrar dos estágios em que se costuma
dizer que os moradores de Brasília sempre passam, do deslumbramento à
despedida, assim como os especifica o poeta Alexandre Marino, nesta postagem.
Mas, de fato, o tema do poema de Belo é bem outro: o quase esgotamento
das fontes de inspiração para dedicar-se à arte da poesia, a revelar-se pela
brevidade dos recursos ou, metaforicamente falando, das cinco pedrinhas de que
agora dispõe, tornando breves os seus poemas, distintamente dos de antanho, de
topologia mais caudalosa.
J.A.R. – H.C.
Ruy Belo
(1933-1978)
Cinco palavras cinco pedras
Antigamente escrevia
poemas compridos
Hoje tenho quatro
palavras para fazer um poema
São elas: desalento
prostração desolação desânimo
E ainda me esquecia
de uma: desistência
Ocorreu-me antes do
fecho do poema
e em parte resume o
que penso da vida
passado o dia oito em
cada mês
e delas vem a música
precisa
para continuar.
Recapitulo:
desistência desalento
prostração desolação desânimo
Antigamente quando os
deuses eram grandes
eu sempre dispunha de
muitos versos
Hoje só tenho cinco
palavras cinco pedrinhas
Em: “Homem de Palavra[s]” (1969)
O tocador de flauta
(Abraham Bloemaert:
pintor holandês)
Referência:
BELO, Ruy. Cinco palavras cinco pedras.
In: __________. Todos os poemas. v.
1. 2. ed. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 2004. p. 272.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário