Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 15 de março de 2019

Ruy Belo - Cinco palavras cinco pedras

Aqui temos um poema que fez-me lembrar dos estágios em que se costuma dizer que os moradores de Brasília sempre passam, do deslumbramento à despedida, assim como os especifica o poeta Alexandre Marino, nesta postagem.

Mas, de fato, o tema do poema de Belo é bem outro: o quase esgotamento das fontes de inspiração para dedicar-se à arte da poesia, a revelar-se pela brevidade dos recursos ou, metaforicamente falando, das cinco pedrinhas de que agora dispõe, tornando breves os seus poemas, distintamente dos de antanho, de topologia mais caudalosa.

J.A.R. – H.C.

Ruy Belo
(1933-1978)

Cinco palavras cinco pedras

Antigamente escrevia poemas compridos
Hoje tenho quatro palavras para fazer um poema
São elas: desalento prostração desolação desânimo
E ainda me esquecia de uma: desistência
Ocorreu-me antes do fecho do poema
e em parte resume o que penso da vida
passado o dia oito em cada mês
e delas vem a música precisa
para continuar. Recapitulo:
desistência desalento prostração desolação desânimo
Antigamente quando os deuses eram grandes
eu sempre dispunha de muitos versos
Hoje só tenho cinco palavras cinco pedrinhas

Em: “Homem de Palavra[s]” (1969)

O tocador de flauta
(Abraham Bloemaert: pintor holandês)

Referência:

BELO, Ruy. Cinco palavras cinco pedras. In: __________. Todos os poemas. v. 1. 2. ed. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 2004. p. 272.

Nenhum comentário:

Postar um comentário