O campo teórico para tentar se definir ou conceituar o que seja o poeta é
vasto, diria até sem limites, muito embora alguns juízos tenham ficado para a
posteridade, como aquele do lusitano Fernando Pessoa, para quem o vate é um
fingidor – finge que é dor a dor que deveras sente!
Para Moacyr Félix, o poeta é um perdedor, uma “besta inglória”, muito
distante, portanto, daquela imagem exacerbadamente valorizada pelo francês
Victor Hugo, que nele vê a presença de um vasto mundo confinado num homem. Quem
terá razão? Qual o “colírio alucinógeno” capaz de reduzir a um denominador
comum tudo aquilo que já se disse sobre esse espírito atormentado por sensações
avassaladoras?
J.A.R. – H.C.
Moacyr Félix
(1926-2005)
O Poeta
O poeta se perdia em
símbolos.
O poeta se perdia em
signos.
O poeta se perdia em
palavras.
O poeta se perdia
nele próprio
sem que espelho algum
lhe trouxesse
o que dele assim
ex-fato se perdia.
O poeta foi sempre um
perdedor
com a tola ambição de
achar-se um dia
sem a necessidade de
fazer poemas
sobre a existência
que lhe escapulia.
O poeta é uma besta
inglória
entre a beleza de uma
laranja
e o riso de todas as
árvores mortas.
Em: “Em nome da vida” (1981)
Homem com um gato
(Cecilia Beaux:
pintora norte-americana)
Referência:
FÉLIX, Moacyr. O poeta. In: Antologia poética. Rio de Janeiro, RJ:
José Olympio, 1993. p. 24.
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