Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 24 de março de 2019

Moacyr Félix - O Poeta

O campo teórico para tentar se definir ou conceituar o que seja o poeta é vasto, diria até sem limites, muito embora alguns juízos tenham ficado para a posteridade, como aquele do lusitano Fernando Pessoa, para quem o vate é um fingidor – finge que é dor a dor que deveras sente!

Para Moacyr Félix, o poeta é um perdedor, uma “besta inglória”, muito distante, portanto, daquela imagem exacerbadamente valorizada pelo francês Victor Hugo, que nele vê a presença de um vasto mundo confinado num homem. Quem terá razão? Qual o “colírio alucinógeno” capaz de reduzir a um denominador comum tudo aquilo que já se disse sobre esse espírito atormentado por sensações avassaladoras?

J.A.R. – H.C.

Moacyr Félix
(1926-2005)

O Poeta

O poeta se perdia em símbolos.
O poeta se perdia em signos.
O poeta se perdia em palavras.
O poeta se perdia nele próprio
sem que espelho algum lhe trouxesse
o que dele assim ex-fato se perdia.
O poeta foi sempre um perdedor
com a tola ambição de achar-se um dia
sem a necessidade de fazer poemas
sobre a existência que lhe escapulia.

O poeta é uma besta inglória
entre a beleza de uma laranja
e o riso de todas as árvores mortas.

Em: “Em nome da vida” (1981)

Homem com um gato
(Cecilia Beaux: pintora norte-americana)

Referência:

FÉLIX, Moacyr. O poeta. In: Antologia poética. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1993. p. 24.

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