De uma obra póstuma, lançada em 1982, extraí este poema trágico, com
prenúncio de dilaceramento do espírito, ostensivamente envolto pela penumbra da
morte – o que, de fato, veio a ocorrer com o falecimento da poetisa, mediante a
ingestão de uma dose excessiva de soníferos.
Independentemente do que se venha a associar ao ocorrido com a autora,
há suficiente beleza na conversão em linguagem desse seu estado despedaçado, a
revelar-se em linhas com tons crepusculares e fragmentados, a sobreporem-se,
como ela mesma preceitua, sobre o silêncio lancinante.
J.A.R. – H.C.
Alejandra Pizarnik
(1936-1972)
En honor de una pérdida
La para siempre seguridad de estar de más en el lugar en
donde los otros
respiran. De mí debo decir que estoy
impaciente porque se
me dé un desenlace menos trágico que
el silencio. Feroz
alegría cuando encuentro una imagen que
me alude. Desde mi respiración
desoladora yo digo: que
haya lenguaje en
donde tiene que haber silencio.
Alguien no se enuncia. Alguien no puede asistirse. Y tú no
quisiste reconocerme
cuando te dije lo que había en mí que
eras tú. Ha tornado
el viejo terror: haber hablado nada con
nadie.
El dorado día no es para mí. Penumbra del cuerpo fascinado
por su deseo de
morir. Si me amas lo sabré aunque no
viva. Y yo me digo:
Vende tu luz extraña, tu cerco inverosímil.
Un fuego en el país no visto. Imágenes de candor cercano.
Vende tu luz, el
heroísmo de tus días futuros. La luz es un
excedente de
demasiadas cosas demasiado lejanas.
En extrañas cosas moro.
De: “Textos de sombra y últimos poemas”
(1982)
Pôr do sol sobre as ondas
(Mauritz de Haas:
pintor holandês-americano)
Em honra de uma perda
A segurança de para sempre ser redundante no lugar
onde os outros
respiram. De minha parte devo dizer que estou
impaciente, porque à
volta de um desenlace menos trágico que
o silêncio. Feroz
alegria quando encontro uma imagem que me
faz alusão. A começar
por minha respiração desoladora, digo:
que haja linguagem
onde tem que haver silêncio.
Alguém não se enuncia. Alguém não pode ajudar-se. E tu não
quiseste me
reconhecer quanto te disse o que havia em mim que
eras tu. O velho
terror retornou: de não haver falado nada com
ninguém.
O dia dourado não é para mim. Penumbra de um corpo
fascinado por seu
desejo de morrer. Se me amas sabê-lo-ei ainda que
não viva. E digo-me:
Vende tua luz estranha, teu halo inverossímil.
Um fogo não visto no país. Imagens de candor contíguo.
Vende tua luz, o
heroísmo de teus dias futuros. A luz é um
excedente de
demasiadas coisas por demais distantes.
Em coisas estranhas eu moro.
De: “Textos de sombra e último poemas”
(1982)
Referência:
PIKARNIK, Alejandra. En honor de una perdida.In:
CANAL, Fredo Arias de la. (Ed.). Antología
de la poesía cósmica y tanática de Alejandra Pizarnik. México, D.F.: Frente
de Afirmación Hispanista, A. C., 2003. p. 6. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 mar.
2019.
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