Diz-nos o poeta que a beleza, a poesia e a liberdade são eternas, porque
perduram mesmo à vista de toda a violência que, contra elas se perpetram:
afastado o perigo do solipsismo, elas têm o reduto do espírito como fonte
primeira de onde emana a força capaz de restaurar os seus respectivos impérios.
Se as horas transformaram-se em noite, quaisquer descuidos do potentado
poderão dar margens a raios de luz que prenunciam a soberania da voz aberta,
não confrangida, para defender sem pusilanimidade essa tríplice vertente que,
em última instância, equivale ao próprio sentido da vida.
J.A.R. – H.C.
Emílio Moura
(1902-1971)
Permanência da poesia
Quando a luz
desaparecer de todo,
mergulharei em mim
mesmo e te procurarei, lá dentro.
A beleza é eterna.
A poesia é eterna.
A liberdade é eterna.
Elas subsistem,
apesar de tudo.
É inútil assassinar
crianças. É inútil atirar aos cães os que,
de repente, se
rebelam e erguem a cabeça olímpica.
A beleza é eterna. A
poesia é eterna. A liberdade é eterna.
Podem exilar a
poesia: exilada, ainda será mais límpida.
As horas passam, os
homens caem,
a poesia fica.
Aproxima-te e escuta.
Há uma voz na noite!
Olha:
É uma luz na noite!
Blue Jay / Gaio Azul
(Eric Sweet: pintor
norte-americano)
Referência:
MOURA, Emílio. Permanência da poesia. In:
__________. 50 poemas escolhidos pelo
autor. Rio de Janeiro, GB: Ministério da Educação e Cultura, 1961. p. 39-40.
(‘Os cadernos de cultura’; v. 126)
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