Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 12 de março de 2019

Emílio Moura - Permanência da poesia

Diz-nos o poeta que a beleza, a poesia e a liberdade são eternas, porque perduram mesmo à vista de toda a violência que, contra elas se perpetram: afastado o perigo do solipsismo, elas têm o reduto do espírito como fonte primeira de onde emana a força capaz de restaurar os seus respectivos impérios.

Se as horas transformaram-se em noite, quaisquer descuidos do potentado poderão dar margens a raios de luz que prenunciam a soberania da voz aberta, não confrangida, para defender sem pusilanimidade essa tríplice vertente que, em última instância, equivale ao próprio sentido da vida.

J.A.R. – H.C.

Emílio Moura
(1902-1971)

Permanência da poesia

Quando a luz desaparecer de todo,
mergulharei em mim mesmo e te procurarei, lá dentro.

A beleza é eterna.
A poesia é eterna.
A liberdade é eterna.
Elas subsistem, apesar de tudo.

É inútil assassinar crianças. É inútil atirar aos cães os que,
de repente, se rebelam e erguem a cabeça olímpica.
A beleza é eterna. A poesia é eterna. A liberdade é eterna.
Podem exilar a poesia: exilada, ainda será mais límpida.

As horas passam, os homens caem,
a poesia fica.

Aproxima-te e escuta.
Há uma voz na noite!

Olha:
É uma luz na noite!

Blue Jay / Gaio Azul
(Eric Sweet: pintor norte-americano)

Referência:

MOURA, Emílio. Permanência da poesia. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro, GB: Ministério da Educação e Cultura, 1961. p. 39-40. (‘Os cadernos de cultura’; v. 126)

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