Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 6 de março de 2019

J. G. de Araújo Jorge - Gata Angorá

A revelar a intimidade que a gatinha angorá tinha consigo, o poeta acreano restabelece a associação, tantas vezes evocada na literatura, entre mulher e gata, em razão de seu agir caprichoso, indolente, lânguido e preguiçoso a cada vez que o autor chega a sua residência.

No fundo, essa odalisca presa em “corpo de pelúcia” anseia mesmo é por carícias. Afinal, tudo se mostra mais próximo quando um animal deposita extrema confiança em seu dono, pois quem não aprecia os afagos?! – mesmo os gatos, tão independentes em seu comportamento.

J.A.R. – H.C.

J. G. de Araújo Jorge
(1914 - 1987)

Gata Angorá

Sobre a almofada rica e em veludo estofada
caprichosa e indolente como uma odalisca
ela estira o seu corpo de pelúcia, – e risca
um estranho bordado ao centro da almofada...

Mal eu chego, ela vem... (nunca a encontrei arisca)
– sempre esse ar de amorosa; a cauda abandonada
como uma pluma solta, pelo chão deixada,
e o olhar, feito uma brasa acesa que faísca!

Mal eu chego, e ela vem... lânguida, preguiçosa,
roçar pelos meus pés a pelúcia, de prata,
como a implorar carícias, tímida e medrosa...

E tem tal expressão, e um tal jeito qualquer,
– que às vezes, chego mesmo a pensar que essa gata
traz no corpo escondida uma alma de mulher!

Em: “Amo!” (1938)

À porta
(Jacobus van Looy: pintor holandês)

Referência:

JORGE, J. G. de Araújo. Gata angorá. In: __________. Antologia poética. V. 1. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Edições Novo Tempo, 1983. p. 54-55.
ö

2 comentários:

  1. É um prazer ter conhecido seu blog, de onde humildemente tiro algumas poesias para compartilhar no meu blog "Nossa Poesia de Cada Dia" que tem completado 10 anos. Já tenho até sinalizado seu blog nos caminhos que visito sempre. Boa sorte ao teu blog.

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    1. Caro Henrique: Agradeço pelo seu comentário e que bom que você gostou de ter conhecido este blog. Vou aproveitar e navegar também um bocado pelo seu, que, coincidências das coincidências, teve começo no mesmo ano em que o meu, muito embora o seu blog seja muito mais movimentado, haja vista que, nos primeiros cinco anos, pouco postei por aqui, em razão de outras ocupações que, àquela altura, ocupavam-me demais o tempo.
      Um abraço,
      João A. Rodrigues

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