A revelar a intimidade que a gatinha angorá tinha consigo, o poeta
acreano restabelece a associação, tantas vezes evocada na literatura, entre
mulher e gata, em razão de seu agir caprichoso, indolente, lânguido e
preguiçoso a cada vez que o autor chega a sua residência.
No fundo, essa odalisca presa em “corpo de pelúcia” anseia mesmo é por
carícias. Afinal, tudo se mostra mais próximo quando um animal deposita extrema
confiança em seu dono, pois quem não aprecia os afagos?! – mesmo os gatos, tão
independentes em seu comportamento.
J.A.R. – H.C.
J. G. de Araújo Jorge
(1914 - 1987)
Gata Angorá
Sobre a almofada rica
e em veludo estofada
caprichosa e
indolente como uma odalisca
ela estira o seu
corpo de pelúcia, – e risca
um estranho bordado
ao centro da almofada...
Mal eu chego, ela
vem... (nunca a encontrei arisca)
– sempre esse ar de
amorosa; a cauda abandonada
como uma pluma solta,
pelo chão deixada,
e o olhar, feito uma
brasa acesa que faísca!
Mal eu chego, e ela
vem... lânguida, preguiçosa,
roçar pelos meus pés
a pelúcia, de prata,
como a implorar
carícias, tímida e medrosa...
E tem tal expressão,
e um tal jeito qualquer,
– que às vezes, chego
mesmo a pensar que essa gata
traz no corpo
escondida uma alma de mulher!
Em: “Amo!” (1938)
À porta
(Jacobus van Looy:
pintor holandês)
Referência:
JORGE, J. G. de Araújo. Gata angorá.
In: __________. Antologia poética.
V. 1. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Edições Novo Tempo, 1983. p. 54-55.
ö
É um prazer ter conhecido seu blog, de onde humildemente tiro algumas poesias para compartilhar no meu blog "Nossa Poesia de Cada Dia" que tem completado 10 anos. Já tenho até sinalizado seu blog nos caminhos que visito sempre. Boa sorte ao teu blog.
ResponderExcluirCaro Henrique: Agradeço pelo seu comentário e que bom que você gostou de ter conhecido este blog. Vou aproveitar e navegar também um bocado pelo seu, que, coincidências das coincidências, teve começo no mesmo ano em que o meu, muito embora o seu blog seja muito mais movimentado, haja vista que, nos primeiros cinco anos, pouco postei por aqui, em razão de outras ocupações que, àquela altura, ocupavam-me demais o tempo.
ExcluirUm abraço,
João A. Rodrigues