Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 23 de março de 2019

Wendell Berry - A Paz das Coisas Selvagens

Este poema vai para aqueles que vivem a se afligir por antecipação, sobre o que hão de ser a sua vida e a de seus familiares no futuro, não atentando para a máxima contida em Mateus (6:34): “Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo”.

Pondere-se que, apesar da menção que faço, acima, a palavras atribuídas a Cristo, o poema de Berry levou-me a associá-lo, primeiramente, ao texto do famoso salmo de Davi (Salmo 23), sobretudo em razão de passagens dos versículos 2 e 3, a saber: “Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma (...)”.

Outra associação, ainda?! A da récita do salmo em apreço, pelo ator John Hurt, no papel de John Merrick, em cena do filme “The Elephant Man” (“O Homem Elefante”), de 1980, do diretor David Lynch. Veja-se:


J.A.R. – H.C.

Wendell Berry
(n. 1934)

The Peace of Wild Things

When despair for the world grows in me
and I wake in the night at the least sound
in fear of what my life and my children’s lives may be,
I go and lie down where the wood drake
rests in his beauty on the water, and the great heron feeds.
I come into the peace of wild things
who do not tax their lives with forethought
of grief. I come into the presence of still water.
And I feel above me the day-blind stars
waiting with their light. For a time
I rest in the grace of the world, and am free.

Patos sobre remansos
(Rosemary Millette: pintora norte-americana)

A Paz das Coisas Selvagens

Quando se me expande o desalento com o mundo
e desperto ao menor ruído, no meio da noite,
com receio do que hão de ser a minha vida e a de meus filhos,
afasto-me e vou relaxar ali onde o belo pato selvagem
repousa sobre a água, e a garça real se alimenta.
Entro em sintonia com a paz das coisas selvagens
que não sobrecarregam suas vidas com a previsão
de aflições futuras. Refugio-me na presença de águas tranquilas.
E sinto, acima de mim, as estrelas ofuscadas pelo dia,
à espera com a sua luz. Por instantes,
descanso na graça do mundo e sou livre.

Referência:

BERRY, Wendell. The peace of wild things. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 426.

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