Este poema vai para aqueles que vivem a se afligir por antecipação,
sobre o que hão de ser a sua vida e a de seus familiares no futuro, não
atentando para a máxima contida em Mateus (6:34): “Portanto, não vos preocupeis
com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É
suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo”.
Pondere-se que, apesar da menção que faço, acima, a palavras atribuídas
a Cristo, o poema de Berry levou-me a associá-lo, primeiramente, ao texto do
famoso salmo de Davi (Salmo 23), sobretudo em razão de passagens dos versículos
2 e 3, a saber: “Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas
refrescantes, restaura as forças de minha alma (...)”.
Outra associação, ainda?! A da récita do salmo em apreço, pelo ator John
Hurt, no papel de John Merrick, em cena do filme “The Elephant Man” (“O Homem
Elefante”), de 1980, do diretor David Lynch. Veja-se:
J.A.R. – H.C.
Wendell Berry
(n. 1934)
The Peace of Wild Things
When despair for the
world grows in me
and I wake in the
night at the least sound
in fear of what my
life and my children’s lives may be,
I go and lie down
where the wood drake
rests in his beauty
on the water, and the great heron feeds.
I come into the peace
of wild things
who do not tax their
lives with forethought
of grief. I come into
the presence of still water.
And I feel above me
the day-blind stars
waiting with their
light. For a time
I rest in the grace
of the world, and am free.
Patos sobre remansos
(Rosemary Millette:
pintora norte-americana)
A Paz das Coisas Selvagens
Quando se me expande
o desalento com o mundo
e desperto ao menor ruído,
no meio da noite,
com receio do que hão
de ser a minha vida e a de meus filhos,
afasto-me e vou relaxar
ali onde o belo pato selvagem
repousa sobre a água,
e a garça real se alimenta.
Entro em sintonia com
a paz das coisas selvagens
que não sobrecarregam
suas vidas com a previsão
de aflições futuras. Refugio-me
na presença de águas tranquilas.
E sinto, acima de
mim, as estrelas ofuscadas pelo dia,
à espera com a sua
luz. Por instantes,
descanso na graça do
mundo e sou livre.
Referência:
BERRY, Wendell. The peace of wild
things. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York,
NY: Penguin Books, 2003. p. 426.
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