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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 13 de março de 2019

Liubomir Levtchev - Ditirambos ao verso livre

Infelizmente não logrei encontrar o original deste poema em búlgaro para fazê-lo acompanhar a versão ao português, abaixo transcrita. Seja como for, o poema, como bem pode constatar o internauta, tece loas ao verso livre nas construções líricas, tão em voga nas escolas contemporâneas, a romper com os padrões clássicos de metrificação.

Para o poeta, verso livre é interconsistente com a liberdade, tornando o vate desamarrado para, desse modo, ir até onde lhe vai o surto de inspiração, desinteressado de cuidados maiores com os imperativos da escansão das sílabas poéticas, sem contar que, no mais das vezes, vezes livres são também versos brancos ou soltos – sem qualquer esquema de rimas.

J.A.R. – H.C.

Liubomir Levtchev
(n. 1935)

Ditirambos ao verso livre

Te quero, verso livre!
Quero teu humanismo.
Quero teu dia-a-dia
e tua eternidade.

Te quero, verso livre!
Te quereria só pela palavra Liberdade
que determina teu nome.

Te quero
porque a liberdade
não é para ti uniforme de gala.
Oh, ela é a razão de tua carne
e o fluxo sagrado
de teu sangue.

Te quero, verso livre!
Porque és membro do meu partido!
Talvez o mais velho –
depois de Lenine.
Talvez o mais jovem –
depois de mim.

Te quero, verso livre!
Te quero
porque és diferente.
Sempre existente
e sempre triunfarás
nos sonetos,
nas estâncias,
nos tercetos,
em todos os ritmos –
branco
como o cabelo
de mamãe
ou maravilhosamente colorido
como o arco-íris sobre o mar...

Os poetas quebraram-te
e viraste escada
para o belo.

Alguns te chamam, zombando,
de perniaberto.
Sim!

Às vezes acontece que o sejas.
Mas não esqueçam os gozadores
que Guilherme Tell também abriu as pernas
em compasso
antes de soltar a terrível flecha!...

Te quero, verso livre!
Porque
irrompes inesperado
como o carro de bombeiros.
E as rimas soam como a campainha –
campainha de ouro nativo:
– Cuidado,
cidadã Tranquilidade!...

Pois –
tu chegas primeiro onde
nasce a faísca do incêndio.
Mas não para apagá-lo
com água
e areia,
senão para atiçá-lo com força nova,
mais deslumbrante,
mais abundante,
infinito
e eterno!...

Te quero, verso livre!

Paisagem Abstrata
(Tatiana Iliina: pintora russa)

Referência:

LEVTCHEV, Liubomir. Ditirambos ao verso livre. Tradução de Rumen Stoyanov. In: __________. Observatório: poesias. Seleção e tradução do búlgaro por Rumen Stoyanov. São Paulo, SP: Montanha Editora (Albert Haimoff), 1975. p. 110-112.

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