Infelizmente não logrei encontrar o original deste poema em búlgaro para
fazê-lo acompanhar a versão ao português, abaixo transcrita. Seja como for, o
poema, como bem pode constatar o internauta, tece loas ao verso livre nas
construções líricas, tão em voga nas escolas contemporâneas, a romper com os
padrões clássicos de metrificação.
Para o poeta, verso livre é interconsistente com a liberdade, tornando o
vate desamarrado para, desse modo, ir até onde lhe vai o surto de inspiração, desinteressado
de cuidados maiores com os imperativos da escansão das sílabas poéticas, sem
contar que, no mais das vezes, vezes livres são também versos brancos ou soltos
– sem qualquer esquema de rimas.
J.A.R. – H.C.
Liubomir Levtchev
(n. 1935)
Ditirambos ao verso livre
Te quero, verso
livre!
Quero teu humanismo.
Quero teu dia-a-dia
e tua eternidade.
Te quero, verso
livre!
Te quereria só pela
palavra Liberdade
que determina teu
nome.
Te quero
porque a liberdade
não é para ti
uniforme de gala.
Oh, ela é a razão de
tua carne
e o fluxo sagrado
de teu sangue.
Te quero, verso
livre!
Porque és membro do
meu partido!
Talvez o mais velho –
depois de Lenine.
Talvez o mais jovem –
depois de mim.
Te quero, verso
livre!
Te quero
porque és diferente.
Sempre existente
e sempre triunfarás
nos sonetos,
nas estâncias,
nos tercetos,
em todos os ritmos –
branco
como o cabelo
de mamãe
ou maravilhosamente
colorido
como o arco-íris
sobre o mar...
Os poetas
quebraram-te
e viraste escada
para o belo.
Alguns te chamam,
zombando,
de perniaberto.
Sim!
Às vezes acontece que
o sejas.
Mas não esqueçam os
gozadores
que Guilherme Tell
também abriu as pernas
em compasso
antes de soltar a
terrível flecha!...
Te quero, verso
livre!
Porque
irrompes inesperado
como o carro de
bombeiros.
E as rimas soam como
a campainha –
campainha de ouro
nativo:
– Cuidado,
cidadã Tranquilidade!...
Pois –
tu chegas primeiro
onde
nasce a faísca do
incêndio.
Mas não para apagá-lo
com água
e areia,
senão para atiçá-lo
com força nova,
mais deslumbrante,
mais abundante,
infinito
e eterno!...
Te quero, verso
livre!
Paisagem Abstrata
(Tatiana Iliina:
pintora russa)
Referência:
LEVTCHEV, Liubomir. Ditirambos ao verso
livre. Tradução de Rumen Stoyanov. In: __________. Observatório: poesias. Seleção e tradução do búlgaro por Rumen
Stoyanov. São Paulo, SP: Montanha Editora (Albert Haimoff), 1975. p. 110-112.
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