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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 2 de março de 2019

Susan Cataldo - Poema à Família

A poetisa retorna a casa – certamente um apartamento num prédio de muitos andares – e, pouco antes de dormir, põe-se a refletir sobre o dia, sabendo que deveria ser grata por algum motivo, embora não saiba identificá-lo plenamente. Tem ela, como companhia, uma criança e o amado – que se põe a murmurar-lhe uma canção de ninar.

São os três uma família que, na calma da noite, procuram descansar da fadiga do dia, ela a procurar um paraíso para poder sonhar em paz, e o infante a vivenciar a idade em que sonho e contentamento são inerentes à natureza das coisas, um mundo no qual as quimeras são a própria essência da realidade!

J.A.R. – H.C.

Susan Cataldo
(1952-2001)

Poem for the Family
        
Before I went to sleep, the soft lamplights
from the tenements across the street,
still, in the night, resembled peace.
There is something I forgot to be grateful
for. But I’m not uneasy. This poem
is enough gratitude for the day. That leaf
tapping against the window, enough
music for the night. My love’s even
breathing, a lullaby for me.
Gentle is the sun’s touch
as it brushes the earth’s revolutions.
Fragrant is the moon in February’s
sky. Stars look down & witness,
never judge. The City moves
beneath me, out of sight.
O let this poem be a planet
or a haven. Heaven for a poet
homeward bound. Rest my son’s head
upon sweet dreams & contentment.
Let me turn out the light to rest.

Luzes na noite
(Leonid Afremov: pintor israelense)

Poema à Família

Antes de pôr-me a dormir, as suaves luzes
dos prédios do outro lado da rua,
silenciosos noite adentro, assemelhavam-se à paz.
Esqueci-me de ser grata por alguma razão.
Porém não estou desconfortável. Este poema
é gratidão bastante para o dia. Aquela folha
chocando-se contra a janela, música
bastante para a noite. Meu amado até
murmura uma canção de ninar para mim.
Suave é o toque do sol
ao rastrear as revoluções da terra.
Perfumosa é a lua no céu de fevereiro.
Estrelas olham para baixo e testemunham,
nunca julgam. Lá embaixo a cidade
se move, sem que possa avistá-la.
Oh, deixe que este poema seja um planeta
ou um refúgio. Firmamento para uma poetisa
que regressa a casa. Descanse a cabeça do meu filho
em doces sonhos e contentamento.
Deixe-me apagar a luz para descansar.

Referência:

CATALDO, Susan. Poem for the family. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 276.

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