Este poema é bem engraçado quanto às suas motivações: já não bastam as
contingências que nos afligem na vida real, ainda assim somos capazes de nos atormentar com problemas vividos por personagens imaginários, nascidos da pena dos
grandes escritores!
A poetisa menciona a obra de Tchekhov, cujos contos despontam entre os
mais bem escritos da literatura mundial. De minha parte, mencionaria um outro
russo: Tolstói. Afinal, quem poderia ficar indiferente ao drama de amor vivido
por Karenina? Aquele exórdio é a máxima das máximas de toda a grande
literatura: “Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são
infelizes cada uma à sua maneira”!
J.A.R. – H.C.
Lisel Mueller
(n. 1924)
Late Hours
On summer nights the
world
moves within earshot
on the interstate
with its swish
and growl, an
occasional siren
that sends chills
through us.
Sometimes, on clear,
still nights,
voices float into our
bedroom,
lunar and fragmented,
as if the sky had let
them go
long before our
birth.
In winter we close
the windows
and read Chekhov,
nearly weeping for
his world.
What luxury, to be so
happy
that we can grieve
over imaginary lives.
Mulher Lendo
(Delphin Enjolras:
pintor francês)
Horas Tardias
Nas noites de verão o
mundo
se move ao alcance do
ouvido
na interestadual com
seus silvos
e rugidos, uma
ocasional sirene
que nos provoca
arrepios.
Às vezes, em noites
claras e serenas,
vozes flutuam em
nosso quarto,
lunares e
fragmentadas,
como se o céu as houvesse
liberado
bem antes de nosso
nascimento.
No inverno fechamos
as janelas
e lemos Tchekhov,
quase a chorar por
seu mundo.
Que luxo, sermos tão
felizes
que podemos nos
afligir
por conta de vidas
imaginárias.
Referência:
MUELLER, Lisel. Late hours. In:
KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 42.
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