Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 17 de março de 2019

Lisel Mueller - Horas Tardias

Este poema é bem engraçado quanto às suas motivações: já não bastam as contingências que nos afligem na vida real, ainda assim somos capazes de nos atormentar com problemas vividos por personagens imaginários, nascidos da pena dos grandes escritores!

A poetisa menciona a obra de Tchekhov, cujos contos despontam entre os mais bem escritos da literatura mundial. De minha parte, mencionaria um outro russo: Tolstói. Afinal, quem poderia ficar indiferente ao drama de amor vivido por Karenina? Aquele exórdio é a máxima das máximas de toda a grande literatura: “Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”!

J.A.R. – H.C.

Lisel Mueller
(n. 1924)

Late Hours

On summer nights the world
moves within earshot
on the interstate with its swish
and growl, an occasional siren
that sends chills through us.
Sometimes, on clear, still nights,
voices float into our bedroom,
lunar and fragmented,
as if the sky had let them go
long before our birth.

In winter we close the windows
and read Chekhov,
nearly weeping for his world.

What luxury, to be so happy
that we can grieve
over imaginary lives.

Mulher Lendo
(Delphin Enjolras: pintor francês)

Horas Tardias

Nas noites de verão o mundo
se move ao alcance do ouvido
na interestadual com seus silvos
e rugidos, uma ocasional sirene
que nos provoca arrepios.
Às vezes, em noites claras e serenas,
vozes flutuam em nosso quarto,
lunares e fragmentadas,
como se o céu as houvesse liberado
bem antes de nosso nascimento.

No inverno fechamos as janelas
e lemos Tchekhov,
quase a chorar por seu mundo.

Que luxo, sermos tão felizes
que podemos nos afligir
por conta de vidas imaginárias.

Referência:

MUELLER, Lisel. Late hours. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 42.

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