Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 20 de março de 2019

David Shumate - Ensinando a uma Criança a Arte da Confissão

Eis um escólio sobre a forma como uma criança deve ser inserida na arte da confissão, longe do começo pela metáfora da criação do mundo, lá pelos capítulos iniciais do Gênesis, porque por demais complicada para a mente de um infante. Ou melhor, como os miúdos são apresentados logo de cara às fábulas de Esopo ou La Fontaine, certamente se identifiquem com a historinha da serpente e o seu poder de sedução!

No fundo, o que Shumate parece querer dizer é que levar uma criança até o confessionário para declinar ao padre os seus pecados é algo de sentido duvidoso, pois, no mais das vezes, ela sequer sabe o que representa, de fato, um pecado – essa coisa bem mais elaborada que permeia apreciável espaço no domínio da ética.

Ou não! Há guris que ficam rolando as telas pornográficas dos sítios eletrônicos, na internet, vendo tudo sobre sexo – e do modo mais desbragado possível –, e para esses não há perdão: já foram expulsos do Éden. Encontram-se agora em um outro paraíso, ou seja, pisaram o solo de Sodoma e Gomorra, lá onde só se “pensa naquilo!” (rs).

J.A.R. – H.C.

David Shumate
(n. 1950)

Teaching a Child the Art of Confession

It is best not to begin with Adam and Eve. Original Sin is
baffling, even for the most sophisticated minds. Besides,
children are frightened of naked people and apples. Instead,
start with the talking snake. Children like to hear what animals
have to say. Let him hiss for a while and tell his own tale.
They’ll figure him out in the end. Describe sin simply as those
acts which cause suffering and leave it at that. Steer clear of
musty confessionals. Children associate them with outhouses.
Leave Hell out of the discussion. They’ll be able to describe it
on their own soon enough. If they feel the need to apologize
for some transgression, tell them that one of the offices of the
moon is to forgive. As for the priest, let him slumber a while
more.

Adão e Eva
(Jacopo Robusti Tintoretto: pintor italiano)

Ensinando a uma Criança a Arte da Confissão

Melhor é não começar com Adão e Eva. O Pecado Original é
desconcertante, mesmo para as mentes mais sofisticadas. Ademais,
as crianças temem as pessoas nuas e as maçãs. Em vez disso,
comece com a serpente falante. As crianças adoram ouvir o que os animais
têm a dizer. Deixe-a silvar por um tempo e contar sua própria história.
Elas a compreenderão ao final. Descreva o pecado como não mais que
atos capazes de causar sofrimento e isto basta. Mantenha-as longe dos
mofados confessionários. As crianças os associam a latrinas.
Deixe o Inferno fora de discussão. Em breve, elas serão capazes de
descrevê-lo por conta própria. Caso sintam a necessidade de se desculpar
por alguma transgressão, diga-lhes que um dos ofícios da
lua é perdoar. Quanto ao sacerdote, permita-lhe dormir um pouco
mais.

Referência:

SHUMATE, David. Teaching a child the art of confession. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 102.

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