Eis um escólio sobre a forma como uma criança deve ser inserida na arte
da confissão, longe do começo pela metáfora da criação do mundo, lá pelos
capítulos iniciais do Gênesis, porque por demais complicada para a mente de um
infante. Ou melhor, como os miúdos são apresentados logo de cara às fábulas de Esopo
ou La Fontaine, certamente se identifiquem com a historinha da serpente e o seu
poder de sedução!
No fundo, o que Shumate parece querer dizer é que levar uma criança até
o confessionário para declinar ao padre os seus pecados é algo de sentido
duvidoso, pois, no mais das vezes, ela sequer sabe o que representa, de fato,
um pecado – essa coisa bem mais elaborada que permeia apreciável espaço no domínio
da ética.
Ou não! Há guris que ficam rolando as telas pornográficas dos sítios eletrônicos,
na internet, vendo tudo sobre sexo – e do modo mais desbragado possível –, e
para esses não há perdão: já foram expulsos do Éden. Encontram-se agora em um
outro paraíso, ou seja, pisaram o solo de Sodoma e Gomorra, lá onde só se “pensa
naquilo!” (rs).
J.A.R. – H.C.
David Shumate
(n. 1950)
Teaching a Child the Art of Confession
It is best not to
begin with Adam and Eve. Original Sin is
baffling, even for
the most sophisticated minds. Besides,
children are
frightened of naked people and apples. Instead,
start with the
talking snake. Children like to hear what animals
have to say. Let him
hiss for a while and tell his own tale.
They’ll figure him
out in the end. Describe sin simply as those
acts which cause
suffering and leave it at that. Steer clear of
musty confessionals.
Children associate them with outhouses.
Leave Hell out of the
discussion. They’ll be able to describe it
on their own soon
enough. If they feel the need to apologize
for some
transgression, tell them that one of the offices of the
moon is to forgive.
As for the priest, let him slumber a while
more.
Adão e Eva
(Jacopo Robusti
Tintoretto: pintor italiano)
Ensinando a uma Criança a Arte da
Confissão
Melhor é não começar
com Adão e Eva. O Pecado Original é
desconcertante, mesmo
para as mentes mais sofisticadas. Ademais,
as crianças temem as
pessoas nuas e as maçãs. Em vez disso,
comece com a serpente
falante. As crianças adoram ouvir o que os animais
têm a dizer. Deixe-a
silvar por um tempo e contar sua própria história.
Elas a compreenderão
ao final. Descreva o pecado como não mais que
atos capazes de causar
sofrimento e isto basta. Mantenha-as longe dos
mofados
confessionários. As crianças os associam a latrinas.
Deixe o Inferno fora
de discussão. Em breve, elas serão capazes de
descrevê-lo por conta
própria. Caso sintam a necessidade de se desculpar
por alguma
transgressão, diga-lhes que um dos ofícios da
lua é perdoar. Quanto
ao sacerdote, permita-lhe dormir um pouco
mais.
Referência:
SHUMATE, David. Teaching a child the
art of confession. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York,
NY: Penguin Books, 2006. p. 102.
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