Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de março de 2019

Eugenio Montale - Felicidade alcançada

Com o objetivo de descrever a fugacidade e a inconstância da felicidade humana, Montale emprega algumas metáforas eficazes: marcha sobre uma lâmina afiada, uma chama débil com potencial para apagar-se ao primeiro sopro de vento, uma massa de gelo que se estala sob a pressão dos pés.

A felicidade, ante tal perspectiva, nunca é um estado apreendido definitivamente, ainda que seja, eventualmente, capaz de fazer-nos levantar com um ar luminoso pela manhã, pois, no geral, o que impera é a dor da existência, como a de uma criança que deixa escapar a bola para um ponto mais distante, oportunidade em que se descobre pouco hábil para capturá-la novamente.

J.A.R. – H.C.

Eugenio Montale
(1896-1981)

Felicità raggiunta

Felicità raggiunta, si cammina
per te sul fil di lama.
Agli occhi sei barlume che vacilla,
al piede, teso ghiaccio che s’incrina;
e dunque non ti tocchi chi più t’ama.

Se giungi sulle anime invase
di tristezza e le schiari, il tuo mattino
è dolce e turbatore come i nidi delle cimase.
Ma nulla paga il pianto del bambino
a cui fugge il pallone tra le case.

Crianças
(Vladimir Volegov: pintor russo)

Felicidade alcançada

Felicidade alcançada, de quem
anda por ti em lâmina acerada.
Aos olhos és vislumbre que vacila,
ao passo, gelo tenso que estala;
e não te toque pois o que mais amor te tem.

Se vens sobre as almas invadidas
de tristeza e as aclaras, teu ar matutino
é doce e perturbador como os ninhos dos beirais.
Mas nada repara choro de menino
a que escapa uma bola pelos quintais.

Referência:

MONTALE, Eugenio. Felicità raggiunta / Felicidade alcançada. Tradução de Renato Xavier. In: __________. Ossos de sépia: 1920-1927. Tradução prefácio e notas de Renato Xavier. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em italiano: p. 86; em português: p. 87. (Edição comemorativa dos 25 anos da Companhia das Letras)

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