O poeta está à procura de Deus e, por mais que vá ao seu encalço, não
consegue apreendê-lo: sua mente é uma sucessão de estados que, lançados ao
passado, já não comportam remissão para configurar constância na linha de ação
futura, motivo pelo qual sonda a presença da eternidade na contemporaneidade de
cada momento.
O título do poema – “Teopatia” – revela que o autor expõe-se a uma
enfermidade ou sofrimento consistente nessa obstinada busca por Deus.
O internauta que me releve, mas a temática do poema suscitou-me a lembrança
dos versos de um renomado fado de Tony de Matos – “Procuro e não te encontro” –,
com o seguinte introito: “Procuro e não te encontro / Não paro, nem volto atrás
/ Eu sei, dizem todos que é loucura / Eu andar à tua procura / Sabendo bem onde
tu estás! Procuro e não te encontro / Procuro nem sei o quê!”.
J.A.R. – H.C.
Venancio
Lisboa
(1917-1993)
Teopatia
No es el compás el que hace el
círculo
Pues éste estaba allí
Redondo aunque invisible y en
espera
Del trazo que lo encuentra y lo
revela.
Igual me ocurre con Dios y lo
reparo
Estoy y moro en él y no lo
alcanzo.
El cielo no está arriba,
En lo alto que lo vemos, tan
lejano.
A ras de tierra empieza;
Y en cuanto caminamos lo pisamos.
Igual me ocurre con Dios, v así
lo advierto
Estoy y moro en él y no lo
siento.
Buscando cómo amistarse
E intentando conocerme
Mi faz recorre una hormiga y yo
la dejo pacer.
Mas, cuando está en la ceja, ya me
ha olvidado
el labio;
Y cuando va en la frente, mi
mejilla ha olvidado.
Igual me ocurre con Dios y lo
comparo
Estoy y moro en él y no lo
abarco.
Como quien dibuja una puerta
Al pie de una muralla
Voceando al interior para que le
abran
A fin de atravesarla,
Mi Dios tan presentido, se me
calla.
Igual que un protozoo que eleva
su mirada
Y acecha hacia el cristal del
microscopio
Estoy buscando a Dios
Y no discierno el ojo que me
observa.
Frente a la esfera de un reloj
medito
Que justo en este instante
Son las doce horas juntas
Simultáneamente.
Y que todos los calendarios del
pasado
Y los del futuro
Se han reunido en un día sólo:
hoy.
Con las yemas de los dedos de la
mente
Tacto la presencia de la
eternidad.
De: “Novela de Contos” (1986)
Admirando
a face de Deus:
a beleza
do mundo inteiro
(Autoria Desconhecida)
Teopatia
Não é o compasso que faz o
círculo
Pois este estava ali
Redondo, embora invisível e à
espera
Do traço que o encontra e o
revela.
Assim me acontece com Deus e o
reparo
Estou e moro nele e não o alcanço.
O céu não está lá em cima,
No alto em que o vemos tão
distante.
No rés do chão começa;
E quando caminhamos o pisamos.
Assim me acontece com Deus, e o
percebo
Estou e moro nele e não o sinto.
Procurando como conciliar-me
E tentando conhecer-me,
Uma formiga percorreu meu rosto e
eu a deixo
à vontade.
Mas, quando está na sobrancelha,
já se esqueceu de
meus lábios.
E quando vai pela fronte, já se
esqueceu do rosto.
Assim me acontece com Deus e o
comparo
Estou e moro nele e não o abarco.
Como quem desenha uma porta
Ao pé de uma muralha
Gritando ao interior para que lhe
abram
A fim de atravessá-la,
Meu Deus tão pressentido,
silencia.
Assim como um protozoário que
levanta o olhar
Que espreita o cristal do
microscópio
estou procurando por Deus
E não distingo o olho que me
observa.
Diante do mostrador de um relógio
medito
Que exatamente neste instante
São as doze horas juntas
Simultaneamente.
E que todos os calendários do
passado
E os do futuro
Reuniram-se em um só dia: hoje.
Com as pontas dos dedos da mente
Sondo a presença da eternidade.
Referências:
Em Espanhol
LISBOA, Venancio. Teopatia. In: Literatura chilena: creación y crítica.
Diez años de poesía chilena (1915-1924). Santiago (CL), Ediciones de la
Frontera; Vol. 14, nºs 2, 3 y 4; año 14, nºs 52, 53 y 54; p. 51, abr.-dic. 1990.
Disponível neste endereço. Acesso em: 19 fev.
2018.
Em Português
LISBOA, Venancio. Teopatia. Tradução de
Sólon Borges dos Reis. In: REIS, Sólon Borges dos (Organização e Tradução). Lira da América: antologia de poesia
hispano-americana. 2. ed. São Paulo, SP: União Paulista de Educação, 1992. p.
85-86.
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