O poeta é um planeta criador a se manifestar ao calor do sol, mas que,
como tudo, perece, muito embora os versos que redige possam perdurar pela
eternidade, ou melhor, tenham algo de distintivo que os façam ser reconhecidos
pelas gerações futuras.
Ariel é um anjo – decerto o próprio poeta – num plano entre o mundo e
imaginação, muito capaz de desenvolver outros mundos sobre a mesa, deixando-o
autogratificado: trata-se de um momento epifânico, claro está, que não se pauta
por algo reservado ou simples, senão com pretensão de notabilidade.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
The Planet on the Table
Ariel was glad he had
written his poems.
They were of a
remembered time
Or of something seen
that he liked.
Other makings of the
sun
Were waste and welter
And the ripe shrub
writhed.
His self and the sun
were one
And his poems,
although makings of his self,
Were no less makings
of the sun.
It was not important
that they survive.
What mattered was
that they should bear
Some lineament or
character,
Some affluence, if
only half-perceived,
In the poverty of
their words,
Of the planet of
which they were part.
Charles Baudelaire
(Gustabe Courbet)
O Planeta na Mesa
Ariel gostou de ter
escrito seus poemas.
Eram de um tempo relembrado
Ou de algo visto que
o agradara.
Outros feitos do sol
Eram agrura e tumulto
E o arbusto maduro
retorcido.
Seu ser e o sol eram
um só.
E seus poemas, embora
feitos de seu ser,
Não eram menos feitos
do sol.
Quer perdurassem não
era importante.
O importante era que
portassem
Algum traço ou
caráter,
Uma afluência, mesmo
quase imperceptível,
Na pobreza de suas
palavras,
Do planeta do qual
faziam parte.
Referência:
STEVENS, Wallace. The planet on the
table / O planeta na mesa. Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. O imperador do sorvete e outros poemas.
Seleção, tradução e apresentação de Paulo Henriques Britto. 1. ed. rev. e ampl.
São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. Em inglês: p. 268; em português: p. 269.
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