Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 22 de março de 2019

Wallace Stevens - O Planeta na Mesa

O poeta é um planeta criador a se manifestar ao calor do sol, mas que, como tudo, perece, muito embora os versos que redige possam perdurar pela eternidade, ou melhor, tenham algo de distintivo que os façam ser reconhecidos pelas gerações futuras.

Ariel é um anjo – decerto o próprio poeta – num plano entre o mundo e imaginação, muito capaz de desenvolver outros mundos sobre a mesa, deixando-o autogratificado: trata-se de um momento epifânico, claro está, que não se pauta por algo reservado ou simples, senão com pretensão de notabilidade.

J.A.R. – H.C.

Wallace Stevens
(1879-1955)

The Planet on the Table

Ariel was glad he had written his poems.
They were of a remembered time
Or of something seen that he liked.

Other makings of the sun
Were waste and welter
And the ripe shrub writhed.

His self and the sun were one
And his poems, although makings of his self,
Were no less makings of the sun.

It was not important that they survive.
What mattered was that they should bear
Some lineament or character,

Some affluence, if only half-perceived,
In the poverty of their words,
Of the planet of which they were part.

Charles Baudelaire
(Gustabe Courbet)

O Planeta na Mesa

Ariel gostou de ter escrito seus poemas.
Eram de um tempo relembrado
Ou de algo visto que o agradara.

Outros feitos do sol
Eram agrura e tumulto
E o arbusto maduro retorcido.

Seu ser e o sol eram um só.
E seus poemas, embora feitos de seu ser,
Não eram menos feitos do sol.

Quer perdurassem não era importante.
O importante era que portassem
Algum traço ou caráter,

Uma afluência, mesmo quase imperceptível,
Na pobreza de suas palavras,
Do planeta do qual faziam parte.

Referência:

STEVENS, Wallace. The planet on the table / O planeta na mesa. Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. O imperador do sorvete e outros poemas. Seleção, tradução e apresentação de Paulo Henriques Britto. 1. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. Em inglês: p. 268; em português: p. 269.

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