Em quatro quadras com versos brancos alexandrinos, Machado tece, neste
poema, uma elegia à morte de seu contemporâneo Rubén Darío – cuja obra muito
lhe influenciou –, lançando mão de referentes mitológicos, como Apolo e Pã, além
de designá-lo o “Jardineiro de Hesperia”, isto é, o hortelão da sede legendária habitada pelas musas.
Ele é o rouxinol dos mares, um dos píncaros da literatura em língua
espanhola: sobre a lápide que lhe espera, Machado sugere nada menos que a
música genuína da lira e da flauta dos supracitados deuses, vale dizer, em
contato com a natureza, a juventude, a beleza e as artes que lhes são comumente associadas.
J.A.R. – H.C.
Antonio Machado
(1875-1939)
A la muerte de Rubén Darío
Si era toda en tu
verso la armonía del mundo,
¿dónde fuiste, Darío,
la armonía a buscar?
Jardinero de
Hesperia, ruiseñor de los mares,
corazón asombrado de
la música astral,
¿te ha llevado
Dionysos de su mano al infierno
y con las nuevas
rosas triunfantes volverás?
¿Te han herido
buscando la soñada Florida,
la fuente de la
eterna juventud, capitán?
Que en esta lengua
madre la clara historia quede;
corazones de todas
las Españas, llorad.
Rubén Darío ha muerto
en sus tierras de Oro,
esta nueva nos vino
atravesando el mar.
Pongamos, españoles,
en un severo mármol,
su nombre, flauta y
lira, y una inscripción no más:
Nadie esta lira
pulse, si no es el mismo Apolo,
nadie esta flauta
suene, si no es el mismo Pan.
(1916)
En: “Elogios”
Rubén Dario
(1867-1916)
À morte de Rubén Darío
Se em teu verso havia
toda a harmonia do mundo,
onde foste, Darío,
buscar a harmonia?
Jardineiro de
Hesperia, rouxinol dos mares,
coração assombrado da
música austral,
pela mão Dionísio
levou-te ao inferno
e com as novas rosas
triunfantes voltarás?
Feriram-te buscando a
sonhada Flórida,
a fonte da eterna
juventude, capitão?
Que nesta língua
materna a clara história permaneça;
corações de todas as
Espanhas, chorai.
Rubén Darío morreu em
suas terras de Ouro,
veio-nos esta nova
atravessando o mar.
Ponhamos, espanhóis,
em um severo mármore,
seu nome, flauta e
lira, e não mais que uma inscrição:
Ninguém pulse esta
lira, senão o próprio Apolo,
ninguém faça soar
esta flauta, senão o próprio Pã.
(1916)
Em: “Elogios”
Referência:
MACHADO, Antonio. A la muerte de Rubén
Darío. In: MACHADO, Antonio. Poesías completas. 10 ed. Madrid, ES:
Espasa-Calpe, 1984. p. 176-177. (Colección ‘Austral’; n. 149)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário