Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 8 de março de 2019

Antonio Machado - À morte de Rubén Darío

Em quatro quadras com versos brancos alexandrinos, Machado tece, neste poema, uma elegia à morte de seu contemporâneo Rubén Darío – cuja obra muito lhe influenciou –, lançando mão de referentes mitológicos, como Apolo e Pã, além de designá-lo o “Jardineiro de Hesperia”, isto é, o hortelão da sede legendária habitada pelas musas.

Ele é o rouxinol dos mares, um dos píncaros da literatura em língua espanhola: sobre a lápide que lhe espera, Machado sugere nada menos que a música genuína da lira e da flauta dos supracitados deuses, vale dizer, em contato com a natureza, a juventude, a beleza e as artes que lhes são comumente associadas.

J.A.R. – H.C.

Antonio Machado
(1875-1939)

A la muerte de Rubén Darío

Si era toda en tu verso la armonía del mundo,
¿dónde fuiste, Darío, la armonía a buscar?
Jardinero de Hesperia, ruiseñor de los mares,
corazón asombrado de la música astral,

¿te ha llevado Dionysos de su mano al infierno
y con las nuevas rosas triunfantes volverás?
¿Te han herido buscando la soñada Florida,
la fuente de la eterna juventud, capitán?

Que en esta lengua madre la clara historia quede;
corazones de todas las Españas, llorad.
Rubén Darío ha muerto en sus tierras de Oro,
esta nueva nos vino atravesando el mar.

Pongamos, españoles, en un severo mármol,
su nombre, flauta y lira, y una inscripción no más:
Nadie esta lira pulse, si no es el mismo Apolo,
nadie esta flauta suene, si no es el mismo Pan.

(1916)
En: “Elogios”

Rubén Dario
(1867-1916)

À morte de Rubén Darío

Se em teu verso havia toda a harmonia do mundo,
onde foste, Darío, buscar a harmonia?
Jardineiro de Hesperia, rouxinol dos mares,
coração assombrado da música austral,

pela mão Dionísio levou-te ao inferno
e com as novas rosas triunfantes voltarás?
Feriram-te buscando a sonhada Flórida,
a fonte da eterna juventude, capitão?

Que nesta língua materna a clara história permaneça;
corações de todas as Espanhas, chorai.
Rubén Darío morreu em suas terras de Ouro,
veio-nos esta nova atravessando o mar.

Ponhamos, espanhóis, em um severo mármore,
seu nome, flauta e lira, e não mais que uma inscrição:
Ninguém pulse esta lira, senão o próprio Apolo,
ninguém faça soar esta flauta, senão o próprio Pã.

(1916)
Em: “Elogios”

Referência:

MACHADO, Antonio. A la muerte de Rubén Darío. In: MACHADO, Antonio. Poesías completas. 10 ed. Madrid, ES: Espasa-Calpe, 1984. p. 176-177. (Colección ‘Austral’; n. 149)

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