Tudo se menciona do que poderia bem ser um quadro de natureza-morta, a
saber, de uma rosa que foi colhida e colocada num vaso, para adornar um
ambiente, por exemplo – e até mesmo remanesce a imagem da mão que a retirou da
roseira, certamente com muito zelo, para mantê-la o mais intacta possível.
Mas o poeta afirma que a rosa não é propriamente a poesia, a despeito de
toda a beleza de seus atributos: pergunta ele pela terra, esta sim, o meio de
que se vale a planta para se nutrir e torna-se a graça que a todos encanta –
essa terra que no caso do poeta, explicite-se, são todas as experiências por
que passa em vida, boas ou más, raras ou triviais.
J.A.R. – H.C.
Guilherme de Almeida
(1890-1969)
Definição de Poesia
Aí está a rosa,
aí está o vaso,
aí está a água,
ai está o caule,
aí está a folhagem,
aí está o espinho,
aí está a cor,
aí está o perfume,
aí está o ar,
aí está a luz,
aí está o orvalho,
aí está a mão
(até a mão que
colheu).
Mas onde está a
terra?
Poesia não é a rosa.
Em: “O Anjo de Sal”
(1949-1951)
Flores: natureza-morta
(Pieter Wagemans:
pintor belga)
Referência:
ALMEIDA, Guilherme. Definição de poesia. In: __________. Toda a poesia. v. VI. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1952. p. 249.
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