O poema abaixo, dedicado pelo grande poeta nicaraguense ao não menos
renomado espanhol, à primeira vista, parece referir-se a um momento no qual
Machado já se encontrava morto. Mas os fatos não são bem estes: note, internauta,
que pela data de falecimento dos dois autores, Darío foi-se primeiro que
Machado!
Isso modifica a interpretação possível do poema: reportar-se-ia Darío ao
padrão de poesia do espanhol – e até utiliza versos com nítido pendor machadiano
–, carregado de reflexões sobre o amor e o passamento, capaz de levá-lo à
imortalidade do Olimpo literário, a tempo e hora montado num Pégaso a consentir
com seu desígnio.
J.A.R. – H.C.
Rubén Darío
(1867-1916)
Oración por Antonio Machado
Misterioso y
silencioso
iba una y otra vez.
Su mirada era tan
profunda
que apenas se podía
ver.
Cuando hablaba tenía
un dejo
de timidez y de
altivez.
Y la luz de sus
pensamientos
casi siempre se veía
arder.
Era luminoso y
profundo
como era hombre de
buena fe.
Fuera pastor de mil
leones
y de corderos a la
vez.
Conduciría
tempestades
o traería un panal de
miel.
Las maravillas de la
vida
y del amor y del
placer,
cantaba en versos
profundos
cuyo secreto era de
él.
Montado en un raro
Pegaso,
un día al imposible
se fue.
Ruego por Antonio a
mis dioses,
ellos le salven
siempre. Amén.
Antonio Machado
(1875-1939)
Oração por Antonio Machado
Misterioso e
silencioso
ia uma e outra vez.
Seu olhar era tão
profundo
que apenas se podia
ver.
Quando falava tinha
um acento
de timidez e de
altivez.
E a luz de seus
pensamentos
quase sempre se via
arder.
Era luminoso e
profundo
tanto quanto homem de
boa fé.
Fora pastor ao mesmo
tempo
de mil leões e de
cordeiros.
Conduziria
tempestades
ou traria um favo de
mel.
As maravilhas da vida
e do amor e do
prazer,
cantava em versos
profundos
cujo segredo lhe
pertencia.
Montado em um raro
Pégaso
uma dia partiu ao
impossível.
Rogo por Antonio aos
meus deuses,
eles lhe salvem
sempre. Amém.
Referência:
DARÍO, Rubén. Oración por Antonio
Machado. In: MACHADO, Antonio. Poesías
completas. 10 ed. Madrid, ES: Espasa-Calpe, 1984. p. 13. (Colección ‘Austral’;
n. 149)
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