Este poema evoca e presta homenagem a três poetas martirizados, a saber,
García Lorca, Saint-Pol Roux – bem assim Divine, sua filha vítima de tortura –
e Jacques Decour. Eles fazem parte de uma comunidade de poetas que arderam – e
ainda hoje ardem – junto ao fogo, numa morada no meio da floresta.
Noutro plano, pertencem todos a uma cidade onde os motivos líricos evoluem
dos estágios primevos concebidos por um infante, até a cornucópia imaginativa
que transborda nos opúsculos levados a prelo pelo poeta já maduro: não há muro
que a estanque, tampouco pedra que, a seus olhos, não se adjetive pelo “extático”
– em contraposição ao “estático” –, pedra rolante, portanto, a provar que o
jogo está longe de chegar ao fim!
J.A.R. – H.C.
Paul Éluard
(1895-1952)
Critique de la poésie
Le feu réveille la
forêt
Les troncs les cœurs
les mains les feuilles
Le bonheur en un seul
bouquet
Confus léger fondant
sucré
C’est toute une forêt
d’amis
Qui s’assemble aux
fontaines vertes
Du bon soleil du bois
flambant
Garcia Lorca a été
mis à mort
Maison d’une seule
parole
Et de lèvres unies
pour vivre
Un tout petit enfant
sans larme
Dans ses prunelles
d’eau perdue
La lumière de
l’avenir
Goutte à goutte elle
comble l’homme
Jusqu’aux paupières
transparentes
Saint-Pol Roux a été
mis à mort
Sa fille a été
suppliciée
Ville glacée d’angles
semblables
Où je rêve de fruits
en fleur
Du ciel entier et de
la terre
Comme à de vierges
découvertes
Dans un jeu qui n’en
finit pas
Pierres fanées murs
sans écho
Je vous évite d’un
sourire
Decour a été mis à
mort.
Morte e Vida
(Gustav Klimt: pintor
austríaco)
Crítica da poesia
O fogo desperta a
floresta
Mãos troncos corações
folhagens
A ventura num só
buquê
Confuso leve doce fluido
Toda uma floresta de
amigos
Reunida ao pé das
verdes fontes
Do bom sol da lenha a
queimar
Garcia Lorca foi
executado
Casa de uma única
palavra
E de lábios vivendo
unidos
Lá um menininho sem
lágrimas
Com pupilas de água
perdida
E nelas a luz do futuro
Que gota a gota
preenche o homem
Até as pálpebras
translúcidas
Saint-Paul Roux foi
executado
Sua filha foi
supliciada
Cidade de ângulos
gelados
Onde eu sonho frutos
em flor
Por todo o céu e pela
terra
Como virgens
descobrimentos
Num jogo que não finda
nunca
Pedras mortas muros
sem eco
Com um sorriso eu vos
evito
Decour foi executado.
Referências:
Em Francês
ÉLUARD, Paul. Critique de la poésie.
Disponível neste endereço. Acesso em 1º mar.
2019.
Em Português
ÉLUARD, Paul. Crítica da poesia.
Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, estudo crítico e tradução de José Paulo Paes. Rio
de Janeiro, RJ: Editora Guanabara, 1988. p. 175-176.
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