Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 7 de março de 2019

Paul Éluard - Crítica da poesia

Este poema evoca e presta homenagem a três poetas martirizados, a saber, García Lorca, Saint-Pol Roux – bem assim Divine, sua filha vítima de tortura – e Jacques Decour. Eles fazem parte de uma comunidade de poetas que arderam – e ainda hoje ardem – junto ao fogo, numa morada no meio da floresta.

Noutro plano, pertencem todos a uma cidade onde os motivos líricos evoluem dos estágios primevos concebidos por um infante, até a cornucópia imaginativa que transborda nos opúsculos levados a prelo pelo poeta já maduro: não há muro que a estanque, tampouco pedra que, a seus olhos, não se adjetive pelo “extático” – em contraposição ao “estático” –, pedra rolante, portanto, a provar que o jogo está longe de chegar ao fim!

J.A.R. – H.C.

Paul Éluard
(1895-1952)

Critique de la poésie

Le feu réveille la forêt
Les troncs les cœurs les mains les feuilles
Le bonheur en un seul bouquet
Confus léger fondant sucré
C’est toute une forêt d’amis
Qui s’assemble aux fontaines vertes
Du bon soleil du bois flambant

Garcia Lorca a été mis à mort

Maison d’une seule parole
Et de lèvres unies pour vivre
Un tout petit enfant sans larme
Dans ses prunelles d’eau perdue
La lumière de l’avenir
Goutte à goutte elle comble l’homme
Jusqu’aux paupières transparentes

Saint-Pol Roux a été mis à mort
Sa fille a été suppliciée

Ville glacée d’angles semblables
Où je rêve de fruits en fleur
Du ciel entier et de la terre
Comme à de vierges découvertes
Dans un jeu qui n’en finit pas
Pierres fanées murs sans écho
Je vous évite d’un sourire

Decour a été mis à mort.

Morte e Vida
(Gustav Klimt: pintor austríaco)

Crítica da poesia

O fogo desperta a floresta
Mãos troncos corações folhagens
A ventura num só buquê
Confuso leve doce fluido
Toda uma floresta de amigos
Reunida ao pé das verdes fontes
Do bom sol da lenha a queimar

Garcia Lorca foi executado

Casa de uma única palavra
E de lábios vivendo unidos
Lá um menininho sem lágrimas
Com pupilas de água perdida
E nelas a luz do futuro
Que gota a gota preenche o homem
Até as pálpebras translúcidas

Saint-Paul Roux foi executado
Sua filha foi supliciada

Cidade de ângulos gelados
Onde eu sonho frutos em flor
Por todo o céu e pela terra
Como virgens descobrimentos
Num jogo que não finda nunca
Pedras mortas muros sem eco
Com um sorriso eu vos evito

Decour foi executado.

Referências:

Em Francês

ÉLUARD, Paul. Critique de la poésie. Disponível neste endereço. Acesso em 1º mar. 2019.

Em Português

ÉLUARD, Paul. Crítica da poesia. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, estudo crítico e tradução de José Paulo Paes. Rio de Janeiro, RJ: Editora Guanabara, 1988. p. 175-176.

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