Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 25 de março de 2019

Zbigniew Herbert - Trenodia de Fortinbras

Em autêntica ode elegíaca, ou seja, num cântico fúnebre e lamentoso – “trenodia” significa exatamente isso –, Herbert põe as palavras a sair da boca de Fortinbras, príncipe herdeiro da Noruega e personagem da tragédia shakespeariana “Hamlet”, a quem concede um funeral de soldado, eis que lhe parece digno de tais honrarias.

Sobressai, no poema, o seu teor infenso a qualquer ideia de submissão ou de resignação a estados opressivos, apontando para a necessidade de se abraçar a bandeira da liberdade, com o que se sobreleva o teor político da peça – o qual, no mais das vezes, pouco vem à tona em suas interpretações –, talvez em razão do interesse de Herbert em levá-la a adaptar-se ao estado de sujeição da sua Polônia natal, em fins dos anos 60, antes, portanto, da queda da denominada “Cortina de Ferro”, duas décadas depois.

O castelo de Elsinore passou a simbolizar um lugar onde um entrelaçamento de vontade e destino foi violentamente definido e uma história identificada como tragédia. Na interpretação moderna, coloca-se a ênfase sobre o aspecto político da situação de Hamlet, como um homem cercado de espiões e fingindo loucura para autoproteção. Mas Hamlet perde o jogo, assim como todo mundo. Em vez de heroicos confrontos de vontade, um status quo provisório e remendado. O poema não pronuncia um juízo claro acerca dos fatos (MILOSZ, 1998, p. 301).

J.A.R. – H.C.

Zbigniew Herbert
(1924-1998)

Tren Fortynbrasa

Dla M. C.

Teraz kiedy zostaliśmy sami możemy porozmawiać książę jak
mężczyzna z mężczyzną
chociaż leżysz na schodach i widzisz tyle co martwa mrówka
to znaczy czarne słońce o złamanych promieniach
Nigdy nie mogłem myśleć o twoich dłoniach bez uśmiechu
i teraz kiedy leżą na kamieniu jak strącone gniazda
są tak samo bezbronne jak przedtem To jest właśnie koniec
Ręce leżą osobno Szpada leży osobno Osobno głowa
i nogi rycerza w miękkich pantoflach

Pogrzeb mieć będziesz żołnierski chociaż nie byłeś żołnierzem
jest to jedyny rytuał na jakim trochę się znam
Nie będzie gromnic i śpiewu będą lonty i huk
kir wleczony po bruku hełmy podkute buty konie artyleryjskie
werbel werbel wiem nic pięknego
to będą moje manewry przed objęciem władzy
trzeba wziąć miasto za gardło i wstrząsnąć nim trochę

Tak czy owak musiałeś zginąć Hamlecie nie byłeś do życia
wierzyłeś w kryształowe pojęcia a nie glinę ludzką
żyłeś ciągłymi skurczami jak we śnie łowiłeś chimery
łapczywie gryzłeś powietrze i natychmiast wymiotowałeś
nie umiałeś żadnej ludzkiej rzeczy nawet oddychać nie umiałeś

Teraz masz spokój Hamlecie zrobiłeś co do ciebie należało
i masz spokój Reszta nie jest milczeniem ale należy do mnie
wybrałeś część łatwiejszą efektowny sztych
lecz czymże jest śmierć bohaterska wobec wiecznego czuwania
z zimnym jabłkiem w dłoni na wysokim krześle
z widokiem na mrowisko i tarczę zegara

Żegnaj książę czeka na mnie projekt kanalizacji
i dekret w sprawie prostytutek i żebraków
muszę także obmyślić lepszy system więzień
gdyż jak zauważyłeś słusznie Dania jest więzieniem
Odchodzę do moich spraw Dziś w nocy urodzi się
gwiazda Hamlet Nigdy się nie spotkamy
to co po mnie zostanie nie będzie przedmiotem tragedii

Ani nam witać się ani żegnać żyjemy na archipelagach
a ta woda te słowa cóż mogą cóż mogą książę

Hamlet: Ato IV, Cena V
(Benjamin West: pintor anglo-americano)

Trenodia de Fortinbras

Para Czesław Miłosz

Agora a sós podemos príncipe falar de homem para homem
se bem que jazas nos degraus e vejas quanto uma formiga
morta vê
ou seja um negro sol com raios rotos
Jamais pude sem rir pensar em tuas mãos
que feito ninhos que caíram jazem Sobre a pedra agora
inermes como outrora O fim não passa disso
As mãos jazendo aqui A espada ali A cabeça acolá
e os pés do cavaleiro em chinelas macias

Verás um funeral de soldado sem nunca ter sido um soldado
é o único ritual que mal e mal conheço
Não há de haver círios nem cantos só pavios e estrondos
crepe arrastado sobre o pavimento elmos botas
ferradas cavalos que puxam canhões tambor tambor
eu bem o sei nada de belo
tais hão de ser minhas manobras antes de apossar-me do poder
convém pegar pelo pescoço esta cidade e sacudi-la um pouco

Perecerias Hamlet cedo ou tarde inapto que eras para a vida
acreditavas em ideias de cristal em vez do barro humano
caçavas entre espasmos sempre e como em sonhos mil quimeras

abocanhavas como um lobo o ar só para vomitá-lo
não sabias fazer nada de humano nem ao menos respirar

Agora estás em paz Hamlet cumpriste o teu papel
e estás em paz Não é silêncio o resto mas pertence a mim
a parte que escolheste era a mais fácil uma esplêndida estocada
mas o que a morte heroica é frente à eterna vigilância
do alto de uma cadeira um pomo frio numa mão
um formigueiro sob os olhos e o quadrante do relógio

Adeus príncipe aguarda-me um projeto para esgotos
e algum decreto sobre prostitutas e mendigos
Preciso aperfeiçoar além disto o sistema de prisões
pois como bem disseste a Dinamarca é uma prisão
Prossigo com meus afazeres Hoje à noite nasce
uma estrela chamada Hamlet Nunca nos reencontraremos
o que eu hei de legar não será tema de tragédias

Nem cabe nos saudarmos despedirmo-nos nós habitamos
arquipélagos
e essa água estas palavras entre nós de que de que nos
valem príncipe.

Referências:

Em Polonês

HERBERT, Zbigniew. Tren Fortynbrasa. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 mar. 2019.

Em Português

HERBERT, Zbigniew. Trenodia de Fortinbras. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. p. 351-352. (Coleção “Lazuli”)

MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998.

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