Em autêntica ode elegíaca, ou seja, num cântico fúnebre e lamentoso – “trenodia”
significa exatamente isso –, Herbert põe as palavras a sair da boca de Fortinbras,
príncipe herdeiro da Noruega e personagem da tragédia shakespeariana “Hamlet”, a
quem concede um funeral de soldado, eis que lhe parece digno de tais honrarias.
Sobressai, no poema, o seu teor infenso a qualquer ideia de submissão ou
de resignação a estados opressivos, apontando para a necessidade de se abraçar
a bandeira da liberdade, com o que se sobreleva o teor político da peça – o
qual, no mais das vezes, pouco vem à tona em suas interpretações –, talvez em
razão do interesse de Herbert em levá-la a adaptar-se ao estado de sujeição da
sua Polônia natal, em fins dos anos 60, antes, portanto, da queda da denominada “Cortina
de Ferro”, duas décadas depois.
O castelo de Elsinore passou a simbolizar um
lugar onde um entrelaçamento de vontade e destino foi violentamente definido e
uma história identificada como tragédia. Na interpretação moderna, coloca-se a ênfase sobre o aspecto político da situação de Hamlet, como um homem cercado
de espiões e fingindo loucura para autoproteção. Mas Hamlet perde o jogo, assim
como todo mundo. Em vez de heroicos confrontos de vontade, um status quo
provisório e remendado. O poema não pronuncia um juízo claro acerca dos fatos (MILOSZ, 1998, p.
301).
J.A.R. – H.C.
Zbigniew Herbert
(1924-1998)
Tren Fortynbrasa
Dla M. C.
Teraz kiedy
zostaliśmy sami możemy porozmawiać książę jak
mężczyzna z mężczyzną
chociaż leżysz na
schodach i widzisz tyle co martwa mrówka
to znaczy czarne
słońce o złamanych promieniach
Nigdy nie mogłem
myśleć o twoich dłoniach bez uśmiechu
i teraz kiedy leżą na
kamieniu jak strącone gniazda
są tak samo bezbronne
jak przedtem To jest właśnie koniec
Ręce leżą osobno
Szpada leży osobno Osobno głowa
i nogi rycerza w
miękkich pantoflach
Pogrzeb mieć będziesz
żołnierski chociaż nie byłeś żołnierzem
jest to jedyny rytuał
na jakim trochę się znam
Nie będzie gromnic i
śpiewu będą lonty i huk
kir wleczony po bruku
hełmy podkute buty konie artyleryjskie
werbel werbel wiem
nic pięknego
to będą moje manewry
przed objęciem władzy
trzeba wziąć miasto
za gardło i wstrząsnąć nim trochę
Tak czy owak musiałeś
zginąć Hamlecie nie byłeś do życia
wierzyłeś w
kryształowe pojęcia a nie glinę ludzką
żyłeś ciągłymi
skurczami jak we śnie łowiłeś chimery
łapczywie gryzłeś
powietrze i natychmiast wymiotowałeś
nie umiałeś żadnej
ludzkiej rzeczy nawet oddychać nie umiałeś
Teraz masz spokój
Hamlecie zrobiłeś co do ciebie należało
i masz spokój Reszta
nie jest milczeniem ale należy do mnie
wybrałeś część
łatwiejszą efektowny sztych
lecz czymże jest
śmierć bohaterska wobec wiecznego czuwania
z zimnym jabłkiem w
dłoni na wysokim krześle
z widokiem na
mrowisko i tarczę zegara
Żegnaj książę czeka
na mnie projekt kanalizacji
i dekret w sprawie
prostytutek i żebraków
muszę także obmyślić
lepszy system więzień
gdyż jak zauważyłeś
słusznie Dania jest więzieniem
Odchodzę do moich
spraw Dziś w nocy urodzi się
gwiazda Hamlet Nigdy
się nie spotkamy
to co po mnie
zostanie nie będzie przedmiotem tragedii
Ani nam witać się ani
żegnać żyjemy na archipelagach
a ta woda te słowa
cóż mogą cóż mogą książę
Hamlet: Ato IV, Cena V
(Benjamin West: pintor
anglo-americano)
Trenodia de Fortinbras
Para Czesław Miłosz
Agora a sós podemos
príncipe falar de homem para homem
se bem que jazas nos
degraus e vejas quanto uma formiga
morta vê
ou seja um negro sol
com raios rotos
Jamais pude sem rir
pensar em tuas mãos
que feito ninhos que
caíram jazem Sobre a pedra agora
inermes como outrora
O fim não passa disso
As mãos jazendo aqui
A espada ali A cabeça acolá
e os pés do cavaleiro
em chinelas macias
Verás um funeral de
soldado sem nunca ter sido um soldado
é o único ritual que
mal e mal conheço
Não há de haver
círios nem cantos só pavios e estrondos
crepe arrastado sobre
o pavimento elmos botas
ferradas cavalos que
puxam canhões tambor tambor
eu bem o sei nada de
belo
tais hão de ser
minhas manobras antes de apossar-me do poder
convém pegar pelo
pescoço esta cidade e sacudi-la um pouco
Perecerias Hamlet
cedo ou tarde inapto que eras para a vida
acreditavas em ideias
de cristal em vez do barro humano
caçavas entre espasmos
sempre e como em sonhos mil quimeras
abocanhavas como um
lobo o ar só para vomitá-lo
não sabias fazer nada
de humano nem ao menos respirar
Agora estás em paz
Hamlet cumpriste o teu papel
e estás em paz Não é
silêncio o resto mas pertence a mim
a parte que
escolheste era a mais fácil uma esplêndida estocada
mas o que a morte
heroica é frente à eterna vigilância
do alto de uma
cadeira um pomo frio numa mão
um formigueiro sob os
olhos e o quadrante do relógio
Adeus príncipe
aguarda-me um projeto para esgotos
e algum decreto sobre
prostitutas e mendigos
Preciso aperfeiçoar
além disto o sistema de prisões
pois como bem
disseste a Dinamarca é uma prisão
Prossigo com meus
afazeres Hoje à noite nasce
uma estrela chamada
Hamlet Nunca nos reencontraremos
o que eu hei de legar
não será tema de tragédias
Nem cabe nos
saudarmos despedirmo-nos nós habitamos
arquipélagos
e essa água estas
palavras entre nós de que de que nos
valem príncipe.
Referências:
Em Polonês
HERBERT, Zbigniew. Tren Fortynbrasa. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 mar.
2019.
Em Português
HERBERT, Zbigniew. Trenodia de
Fortinbras. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e
Organização). Poesia alheia: 124
poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. p. 351-352. (Coleção
“Lazuli”)
MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998.
MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998.
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