Pétalas foram deixadas entre as folhas do livro, formando trilhas do
que, mediante a leitura, resultou em prazer do texto. Mesmo o simples compulsar
das páginas, converteu-se em marcas deixadas pelos presumidos dedos da amada. E
agora, na paz do silêncio, afloram as memórias dessas pequenas coisas casuais
que adejam neste consternado canto do poeta.
Os livros parecem ser o denominador comum em que estavam imersos os consortes,
a compor outros tantos enredos de vida, do nascer ao pôr do sol, quando então,
no entrecruzar dos sonhos, o que indelével se tornara vem à tona, na tentativa
de formar sentidos, amparados – agora sim – em suas próprias histórias de vida.
J.A.R. – H.C.
António Salvado
(n. 1936)
Livro
Tantas pequenas
coisas casuais
acontecidas para
comprazer:
nas páginas as unhas
sublinhadas
e nas margens as
polpas de teus dedos
pétalas soltas a
revigorarem
secas o rumo do que
fora lido
e o silêncio turbado
a serenar
o calafrio quando ao
chão caídas
O crepúsculo arfava
no vigor
do sol que esmaecido
vagueava
por entre a calma
vibração das folhas
que os olhos vagos
sem nublar passavam...
Chegado ao fim, a
noite comovia
o nosso arfar no seu
rumor vibrante
São estas as memórias
reluzidas
que agora adejo no
sofrer do canto.
Em: “Certificado de Presença” (1996)
Jogo de Risco
(John Morra: pintor
norte-americano)
Referência:
SALVADO, António. Livro. In:
__________. Obra III. Coimbra, PT: A
Mar Arte, 1999. p. 28.
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