Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Marianne Moore - A uma girafa

Recorrer ao mundo animal para, com recursos simbólicos ou metafóricos, expressar ideias as mais diversas parece ter sido o hobby de Moore, que vai até as últimas consequências em seus experimentalismos: mesmo aqui no bloguinho já postamos um poema por ela dedicado ao caracol. Com efeito, a poetisa tem certa preferência por animais – como diria? – esquisitos, exceto o gato, obviamente, um dos poucos bichos domésticos que aparece em seus versos.

 

O título do poema em epígrafe faz-nos supor que Marianne o dedica a uma girafa, mas, de fato, os versos que o compõe permitem-nos ver que ela é apenas o tema à volta do qual gira o poema. No fundo, a girafa representa uma condição atribuível ao ser humano: você precisa ser uma delas, vale dizer, um animal bastante exótico, para alcançar as “folhas superiores”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Marianne Moore

(1887-1972)

 

To a giraffe

 

If it is unpermissible, in fact fatal

to be personal and desirable

 

to be literal – detrimental as well

if the eye is not innocent – does it mean that

 

one can live only on top leaves that are small

reachable only by a beast that is tall? –

 

of which the giraffe is the best example –

the unconversational animal.

 

When plagued by the psychological,

a creature can be unbearable

 

that could have been irresistible;

or to be exact, exceptional

 

since less conversational

than some emotionally-tied-in-knots animal.

 

After all

consolations of the metaphysical

can be profound. In Homer, existence

 

is flawed; transcendence, conditional;

“the journey from sin to redemption, perpetual.”

 

In: “Tell me, tell me” (1966)

 


Mamãe Girafa

(Lucie Bilodeau: pintora canadense)

 

A uma girafa

 

Se é inadmissível, de fato fatal,

ser pessoal e indesejável

 

ser literal – e até mau, por sinal,

se o olho não é inocente – será que

 

se pode viver só das folhinhas do alto

acessíveis só a um bicho escomunal? –

 

do qual o melhor exemplo é a girafa –

o inconversável animal.

 

Quando o psíquico o deixa mal,

um ser que teria sido insuperável

 

pode muito bem se tomar insuportável;

ou, mais exato, excepcional,

 

já que bem menos conversável

que um animal com algum bloqueio emocional.

 

Afinal,

pode bem ser abismal

o alívio metafísico. Em Homero, a vida

 

é falha; a transcendência, condicional;

“a via do pecado à redenção, eternal”.

 

Em: “Me diz, me diz” (1966)

 

Referência:

 

MOORE, Marianne. To a giraffe. Tradução de José Antonio Arantes. In: __________. Poemas. Seleção de João Moura Jr. Tradução e posfácio de José Antonio Arantes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1991. Em inglês: p. 156; em português: 157.

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