Como dizíamos em rápido comentário ao
poema “A Morte de Madrugada”, de Vinicius de Moraes – postado na terça-feira
passada (4/9/2018) –, a epígrafe por este então empregada em sua ode dizia
respeito a um dos versos do poema de Antonio Machado, que o leitor poderá
verificar, abaixo, entre aqueles que compõem a primeira estrofe, alusiva ao
crime: “Muerto cayó Federico”.
Veja-se que na primeira e na terceira
estrofes, o poema transcorre como se um terceiro estivesse descrevendo os fatos
e interpretando-os. Contudo, na segunda estrofe, em sua maior parte, a voz
lírica seria, imaginosamente, a do próprio poeta, a dialogar com a sua
companheira cigana, a dizer, a morte! P.s.: “Romancero Gitano” (“Romanceiro
Cigano”), de 1928, é um dos mais reputados trabalhos de Lorca.
J.A.R. – H.C.
Antonio Machado
(1875-1939)
El crimen fue en Granada
(A Federico García Lorca)
I. El crimen
Se le vio, caminando
entre fusiles,
por una calle larga,
salir al campo frío,
aún con estrellas de
la madrugada.
Mataron a Federico
cuando la luz
asomaba.
El pelotón de
verdugos
no osó mirarle la
cara.
Todos cerraron los
ojos;
rezaron: ¡ni Dios te
salva!
Muerto cayó Federico
– sangre en la frente
y plomo en las entrañas –
...Que fue en Granada
el crimen
sabed – ¡pobre Granada! –, en
su Granada.
II. El poeta y la
muerte
Se le vio caminar
solo con Ella,
sin miedo a su
guadaña.
– Ya el sol en torre
y torre, los martillos
en yunque – yunque y
yunque de las fraguas.
Hablaba Federico,
requebrando a la
muerte. Ella escuchaba.
“Porque ayer en mi verso,
compañera,
sonaba el golpe de
tus secas palmas,
y diste el hielo a mi
cantar, y el filo
a mi tragedia de tu
hoz de plata,
te cantaré la carne
que no tienes,
los ojos que te
faltan,
tus cabellos que el
viento sacudía,
los rojos labios
donde te besaban...
Hoy como ayer,
gitana, muerte mía,
qué bien contigo a
solas,
por estos aires de
Granada, ¡mi Granada!”
III.
Se le vio caminar...
Labrad, amigos,
de piedra y sueño en
el Alhambra,
un túmulo al poeta,
sobre una fuente
donde llore el agua,
y eternamente diga:
el crimen fue en
Granada, ¡en su Granada!
Lorca 3
“Verde que te quiero verde. Verde viento.
Verdes ramas. El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña”.
Do poema: “Romance
Sonámbulo”
(Emily Tarleton:
pintora norte-americana)
O crime foi em Granada
(A Federico García Lorca)
I. O crime
Viram -no, caminhando
entre fuzis
por uma longa
estrada,
sair ao campo frio,
ainda com estrelas,
madrugada.
Mataram a Federico
quando a luz já se
elevava.
O pelotão de verdugos
não ousou olhar sua
cara.
Todos fecharam os
olhos;
rezaram: nem Deus te
salva!
Morto caiu Federico
– sangue na fronte e
chumbo nas entranhas –
...Foi lá em Granada
o crime,
sabei – pobre Granada
– , em sua Granada.
II. O poeta e a morte
Viram-no caminhar a
sós com Ela,
sem temer sua
gadanha.
– Já o sol de torre
em torre; e já os martelos
na bigorna – metal,
metal das fráguas.
Falava Federico,
galanteando a morte.
Ela o escutava.
“Porque ontem no meu
verso, companheira,
soava o golpe de tuas
secas palmas,
e deste o gelo ao meu
cantar, e o gume
de tua foice de prata
à minha desgraça,
te cantarei a carne
que não tens,
os olhos que te
faltam,
teus cabelos que o
vento sacudia,
os rubros lábios em
que te beijavam...
Hoje como ontem,
morte, minha cigana,
que bom estar só
contigo ,
por estes campos de
Granada, minha Granada!”
III.
Viram-no caminhar...
Talhai, amigos,
de pedra e sonho, lá
no Alhambra
um túmulo ao poeta,
sobre uma fonte na
qual chore a água,
e eternamente diga:
foi em Granada o crime,
em sua Granada!
Referência:
MACHADO, Antonio. El crimen fue en
Granada / O crime foi em Granada. Tradução de Marco Aurélio Pinotti Catalão. In:
__________. Obra poética: antología
y traducción. Obra Poética:
antologia e tradução. Estudo introdutório, antologia e tradução comentada por
Marco Aurélio Pinotti Catalão. Brasília, DF: Embajada da España. Consejería de
Educación, 2005. Em espanhol: p. 238 e 240; em português: p. 239 e 241. (Colección
Orellana, nº. 16; Coleção Orellana, nº 16)
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