Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Antonio Machado - O crime foi em Granada

Como dizíamos em rápido comentário ao poema “A Morte de Madrugada”, de Vinicius de Moraes – postado na terça-feira passada (4/9/2018) –, a epígrafe por este então empregada em sua ode dizia respeito a um dos versos do poema de Antonio Machado, que o leitor poderá verificar, abaixo, entre aqueles que compõem a primeira estrofe, alusiva ao crime: “Muerto cayó Federico”.

Veja-se que na primeira e na terceira estrofes, o poema transcorre como se um terceiro estivesse descrevendo os fatos e interpretando-os. Contudo, na segunda estrofe, em sua maior parte, a voz lírica seria, imaginosamente, a do próprio poeta, a dialogar com a sua companheira cigana, a dizer, a morte! P.s.: “Romancero Gitano” (“Romanceiro Cigano”), de 1928, é um dos mais reputados trabalhos de Lorca.

J.A.R. – H.C.

Antonio Machado

(1875-1939)

El crimen fue en Granada
(A Federico García Lorca)

I. El crimen

Se le vio, caminando entre fusiles,
por una calle larga,
salir al campo frío,
aún con estrellas de la madrugada.
Mataron a Federico
cuando la luz asomaba.
El pelotón de verdugos
no osó mirarle la cara.
Todos cerraron los ojos;
rezaron: ¡ni Dios te salva!
Muerto cayó Federico
– sangre en la frente y plomo en las entrañas –
...Que fue en Granada el crimen
sabed – ¡pobre Granada! –, en su Granada.

II. El poeta y la muerte

Se le vio caminar solo con Ella,
sin miedo a su guadaña.
– Ya el sol en torre y torre, los martillos
en yunque – yunque y yunque de las fraguas.
Hablaba Federico,
requebrando a la muerte. Ella escuchaba.
“Porque ayer en mi verso, compañera,
sonaba el golpe de tus secas palmas,
y diste el hielo a mi cantar, y el filo
a mi tragedia de tu hoz de plata,
te cantaré la carne que no tienes,
los ojos que te faltan,
tus cabellos que el viento sacudía,
los rojos labios donde te besaban...
Hoy como ayer, gitana, muerte mía,
qué bien contigo a solas,
por estos aires de Granada, ¡mi Granada!”

III.

Se le vio caminar...
Labrad, amigos,
de piedra y sueño en el Alhambra,
un túmulo al poeta,
sobre una fuente donde llore el agua,
y eternamente diga:
el crimen fue en Granada, ¡en su Granada!

Lorca 3
“Verde que te quiero verde. Verde viento.
Verdes ramas. El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña”.
Do poema: “Romance Sonámbulo”

(Emily Tarleton: pintora norte-americana)

O crime foi em Granada
(A Federico García Lorca)

I. O crime

Viram -no, caminhando entre fuzis
por uma longa estrada,
sair ao campo frio,
ainda com estrelas, madrugada.
Mataram a Federico
quando a luz já se elevava.
O pelotão de verdugos
não ousou olhar sua cara.
Todos fecharam os olhos;
rezaram: nem Deus te salva!
Morto caiu Federico
– sangue na fronte e chumbo nas entranhas –
...Foi lá em Granada o crime,
sabei – pobre Granada – , em sua Granada.

II. O poeta e a morte

Viram-no caminhar a sós com Ela,
sem temer sua gadanha.
– Já o sol de torre em torre; e já os martelos
na bigorna – metal, metal das fráguas.
Falava Federico,
galanteando a morte. Ela o escutava.
“Porque ontem no meu verso, companheira,
soava o golpe de tuas secas palmas,
e deste o gelo ao meu cantar, e o gume
de tua foice de prata à minha desgraça,
te cantarei a carne que não tens,
os olhos que te faltam,
teus cabelos que o vento sacudia,
os rubros lábios em que te beijavam...
Hoje como ontem, morte, minha cigana,
que bom estar só contigo ,
por estes campos de Granada, minha Granada!”

III.

Viram-no caminhar...
Talhai, amigos,
de pedra e sonho, lá no Alhambra
um túmulo ao poeta,
sobre uma fonte na qual chore a água,
e eternamente diga:
foi em Granada o crime, em sua Granada!

Referência:

MACHADO, Antonio. El crimen fue en Granada / O crime foi em Granada. Tradução de Marco Aurélio Pinotti Catalão. In: __________. Obra poética: antología y traducción. Obra Poética: antologia e tradução. Estudo introdutório, antologia e tradução comentada por Marco Aurélio Pinotti Catalão. Brasília, DF: Embajada da España. Consejería de Educación, 2005. Em espanhol: p. 238 e 240; em português: p. 239 e 241. (Colección Orellana, nº. 16; Coleção Orellana, nº 16)

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