Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Ron Loewinsohn - A Tranquilidade do Poema

Da lavra de um poeta norte-americano não tão conhecido, o poema abaixo estabelece conexões entre um rinoceronte a irromper numa clareira da floresta e um outro que, por hipótese, poderia emergir, inesperadamente, numa rua onde houvesse um movimentado mercado.

 

No primeiro caso, a natureza da fera nos é dada a conhecer quando ela sai da zona de mata fechada para o meio da clareira, não sendo tal fato um evento corriqueiro, motivo por que é capaz de nos despertar a atenção. No segundo, pelas espécies tão díspares das tribos que frequentam a região do mercado, o surgimento de um rinoceronte nas imediações pouco diferiria de um qualquer que estivesse por lá transitando – um marinheiro, no exemplo empregado pelo poeta.

 

Desse modo é que Loewinsohn retrata a tranquilidade do poema: “um momento pleno de silêncio e de augúrio, como a repentina parada de grandes máquinas”. Entre o que nos é inusitado e o que nos é familiar deve o poeta transitar e verter em palavras a singularidade do momento, em perfeita combinação dos ingredientes emocional e intelectivo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ron Loewinsohn

(1937-2014)

 

The Stillness of the Poem

 

The stillness of the jungle

a clearing amid the vines

which distant bird sounds enter,

timidly. The overpowering silence

of the jungle clearing

into which Rhinoceri &

other wild beasts are always

charging suddenly from the canebrake

to reveal themselves

one instant

in all their natural savagery

or fear,

their nature made known to us

out of the jungle’s quiet.

 

The stillness of the poem

a moment full of silence &

portent, like

the sudden halt of great machines.

Silence that becomes a fabric

to clothe the consciousness

...the events & observations of

a walk up Market Street

are admitted, as if

from a great distance,

the White Rhinoceros

charging

suddenly, in the form of a sailor

with a shopping bag

whom nobody notices.

               

(1957)

 

Rinoceronte a entreter-se

(Sharon Sieben: pintora norte-americana)

 

A Tranquilidade do Poema

 

A tranquilidade da selva;

uma clareira entre as trepadeiras

na qual sons de pássaros distantes entram,

timidamente. O opressivo silêncio

da clareira da selva,

na qual Rinocerontes &

outras bestas selvagens estão sempre

a despontar subitamente do canavial,

para revelar-se

por um instante

em toda a sua natural ferocidade

ou temor;

a natureza delas nos é dada a conhecer

fora da quietude da selva.

          

A tranquilidade do poema;

um momento pleno de silêncio &

augúrio, como

a repentina parada de grandes máquinas.

Silêncio que se converte numa textura

para recobrir a consciência

...admitem-se os eventos & observações

de uma caminhada

até a Rua do Mercado,

como se de uma grande distância,

o Rinoceronte Branco

irrompesse

de repente, na forma de um marinheiro

com uma sacola de compras,

sem que ninguém desse conta.

 

(1957)

 

Referência:

 

LOEWINSOHN, Ron. The stillness of the poem. In: ALLEN, Donald M. (Ed.). The new american poetry. New York, NY: Grove Press Inc.; London, EN: Evergreen Books Ltd., 1960. p. 378-379.

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