Da lavra de um poeta norte-americano não tão
conhecido, o poema abaixo estabelece conexões entre um rinoceronte a irromper
numa clareira da floresta e um outro que, por hipótese, poderia emergir,
inesperadamente, numa rua onde houvesse um movimentado mercado.
No primeiro caso, a natureza da fera nos é dada
a conhecer quando ela sai da zona de mata fechada para o meio da clareira, não
sendo tal fato um evento corriqueiro, motivo por que é capaz de nos despertar a
atenção. No segundo, pelas espécies tão díspares das tribos que frequentam a
região do mercado, o surgimento de um rinoceronte nas imediações pouco
diferiria de um qualquer que estivesse por lá transitando – um marinheiro, no
exemplo empregado pelo poeta.
Desse modo é que Loewinsohn retrata a tranquilidade
do poema: “um momento pleno de silêncio e de augúrio, como a repentina parada
de grandes máquinas”. Entre o que nos é inusitado e o que nos é familiar deve o
poeta transitar e verter em palavras a singularidade do momento, em perfeita
combinação dos ingredientes emocional e intelectivo.
J.A.R. – H.C.
Ron Loewinsohn
(1937-2014)
The Stillness of the
Poem
The stillness of the
jungle
a clearing amid the
vines
which distant bird
sounds enter,
timidly. The
overpowering silence
of the jungle clearing
into which Rhinoceri
&
other wild beasts are
always
charging suddenly from
the canebrake
to reveal themselves
one instant
in all their natural
savagery
or fear,
their nature made known
to us
out of the jungle’s
quiet.
The stillness of the
poem
a moment full of silence
&
portent, like
the sudden halt of great
machines.
Silence that becomes a
fabric
to clothe the
consciousness
...the events &
observations of
a walk up Market Street
are admitted, as if
from a great distance,
the White Rhinoceros
charging
suddenly, in the form of
a sailor
with a shopping bag
whom nobody notices.
(1957)
Rinoceronte a
entreter-se
(Sharon Sieben: pintora
norte-americana)
A Tranquilidade do Poema
A tranquilidade da
selva;
uma clareira entre as
trepadeiras
na qual sons de pássaros
distantes entram,
timidamente. O opressivo
silêncio
da clareira da selva,
na qual Rinocerontes
&
outras bestas selvagens
estão sempre
a despontar subitamente
do canavial,
para revelar-se
por um instante
em toda a sua natural
ferocidade
ou temor;
a natureza delas nos é
dada a conhecer
fora da quietude da
selva.
A tranquilidade do
poema;
um momento pleno de
silêncio &
augúrio, como
a repentina parada de
grandes máquinas.
Silêncio que se converte
numa textura
para recobrir a
consciência
...admitem-se os eventos
& observações
de uma caminhada
até a Rua do Mercado,
como se de uma grande
distância,
o Rinoceronte Branco
irrompesse
de repente, na forma de
um marinheiro
com uma sacola de
compras,
sem que ninguém desse
conta.
(1957)
Referência:
LOEWINSOHN, Ron. The stillness of the poem. In:
ALLEN, Donald M. (Ed.). The new american poetry. New York, NY:
Grove Press Inc.; London, EN: Evergreen Books Ltd., 1960. p. 378-379.
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